terça-feira, dezembro 06, 2005

O azar de Peseiro



Em 18 Maio 2005, estava no estádio de Alvalade. Final da Taça UEFA. Ao intervalo ganhávamos por 1-0, e com um desempenho que merecia mais. Após o intervalo, o pesadelo. Já havia 1-2 quando Tello, dentro da área pela direita, com 3 colegas bem colocados tenta o remate. A bola ainda bate em alguém mas não entra. Ainda desesperado pelo falhanço, não acredito no que acaba de acontecer: num ataque rápido, praticamente sem oposição os russos ditam o vencedor. No mesmo instante duas emoções de sentidos opostos.

A carreira europeia do Sporting na época passada foi linda. O perfume do bom futebol encantou esses relvados da Europa. Quem não se lembra das vitórias com o Feyanoord e quando chegámos a 3-0 em Middlesbrough? E a epopeia da eliminatória com o Newcastle, quando após perder fora 1-0, começámos também por sofrer um golo. Recuperação fantástica e chapa 4 no final. Último minuto do prolongamento da 2ª mão da meia-final: canto a favor do Sporting, explosão na cabeçada de Miguel Garcia e toda a sorte para Peseiro. Mas a que preço?

Após um mau início de Campeonato a filosofia de Peseiro impôs-se: futebol de bola no pé, de ataque, de remates e de golos. Para a Taça no Estádio da Luz os nossos rivais ficaram convencidos da nossa superioridade, tal foi o "banho de bola". Aqui M. Garcia foi o vilão. Lutámos pelo título, chegando à penúltima jornada, aos 85min na Luz com o Campeonato na mão.

E esse instante, cruel, resultante de um livre mal marcado, uma saída do Ricardo trágica, uma decisão do árbitro que podia (devia?) ser a de anular o golo, aliás como todos (inclusive jogadores do Benfica) esperavam. Este momento definiu o azar de Peseiro. Tínhamos jogado para empatar, sem Liedson (culpa própria) e ficámos a 5min do objectivo. Depois a derrota na UEFA. Peseiro votado o melhor treinador do ano (na semana anterior) e fecho da época.

Calendário díficil mas 3 vitórias conseguidas a abrir. Após eliminatória com a Udinese (Liga dos Campeões) com aplausos na derrota em casa, a eliminatória contra o Halmstads. Aqui outro instante de má fortuna. Depois de um mau jogo, empatado aos 90min que nos garantia a passagem à fase de grupos, há um livre com uma saída fora do tempo e espaço do Nelson e prolongamento que deitaria tudo a perder. Foi duro. E o público de Alvalade não perdoou. Já antes na vitória ao Setúbal por escasso 1-0, lenços brancos, toda a animosidade contra Peseiro a intraquilizar a equipa.

Com a equipa sem a confiança, o treinador a ser contestado, a situação tornou-se insustentável. Mas o tempo fará alguma justiça a um bom treinador, competente, trabalhador e com conhecimentos. Mas também com azar. Sobretudo com azar com o público leonino que nunca o considerou um dos nossos. Espero contribuir para a memória dos sportinguistas para que na história do clube haja um espaço digno para Peseiro, o treinador que quase... nos levou a fazer a melhor temporada de todos os tempos.

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3 Comments:

Blogger Rantas said...

"Quase" foi o signo do ano passado. Esta época, apesar de tudo o que já sucedeu, havemos de festejar o centenário de forma condigna. Creio que foi restabelecida a confiança da equipa, foi renovada a ligação com os adeptos, havemos de lá chegar!

terça-feira, dezembro 06, 2005 9:07:00 da tarde  
Blogger Alex said...

Confesso que admiro o Peseiro. Tinha um bom discurso, defendendo o futebol espectáculo, sem guerras, querendo fazer do futebol uma festa. Dos seus conhecimentos técnicos também nada a dizer. Mas um treinador de futebol é antes de tudo um líder de homens. E aí...
Foi a sua falta de liderança, o não ter ganho o respeito do balneário que deitou tudo a perder.
Quem não se lembra do "vai tomar no cu" do Rochemback e do Liedson, do atraso no regresso do mesmo Liedson, do mau ambiente entre os jogadores que acabou à porrada...
Um treinador tem que motivar, dar confiança, fazer cada jogador sentir-se o melhor do mundo. E isso ele não conseguiu. Os jogadores não o respeitavam, os adeptos não tiveram paciência...
Quanto ao "melhor futebol"... Na minha opinião, o Sporting fez algumas grandes exibições, 1ª parte com o Feyenoord cá, o jogo na Luz para a Taça... No geral era muito passe para trás e para o lado. E como é possivel jogar o campeonato na Luz daquela maneira ? O Douala como ponta de lança!!...
Saúdinha

terça-feira, dezembro 06, 2005 10:02:00 da tarde  
Blogger El Ranys said...

Pois é, Manolo, a velha conversa que tantas vezes já tivemos.
Não será errado dizer que faltou a Peseiro, sobretudo, capacidade de motivação psicológica dos jogadores. Isso de que o Alex fala, liderança.
Depois, a insistência, durante muito tempo, em colocar Rogério a meio-campo; aquela colocação de Polga a defesa-esquerdo; a persistente colocação de Deivid e Liedson, em simultâneo, em campo...nas bancadas todos vimos que essas opções não funcionavam.
Por outro lado, penso que o que marcou a grande diferença entre dizeres, agora, que o Peseiro é um bom treinador, ou nem sequer falares nele, passa por um golo de Miguel Garcia, no último minuto, na Holanda.
De facto, nessa esplendorosa caminhada até à final UEFA, não tivemos pela frente nenhuma equipa excepcional.
Melhor nem falar nas competições internas: no estado em que se encontravam e pela forma como jogavam os principais rivais, era obrigação de um treinador do Sporting fazer da equipa Campeão. Peseiro não foi capaz.
Falas de futebol bonito, mas posso sempre falar-te de jogos em que o SCP podia chegar ao 1º lugar e, irritante e displicentemente, falhava. Falta de atitude mental, na minha opinião. Falta de "espírito de campeão". Falta de liderança. Excesso de Peseiro.
Claro que Peseiro foi "queimado" pelos seus jogadores, mas aí, de quem será a culpa?
No fundo, do que o Sporting precisa é de treinadores com sorte.
E não dos peseiros desta vida.
Foi duro, muito duro, assistir à derrocada do sonho, na final da UEFA, em Alvalade. Lembro-me que nós, na bancada, ficámos quase catatónicos quando o árbitro apitou para o fim do jogo. Como foi possível ter deixado fugir oportunidade tão estupenda (a maior que vamos ter em muitos, muitos anos, até porque foi no nosso estádio), de nos afirmarmos como clube europeu?
Não consigo ser benevolente, ainda hoje, com Peseiro. E até sou dos que defendem a estabilidade das equipas técnicas. Mas Peseiro teve o que mereceu. Foi para a rua. Talvez, daqui a uns anos, se revele um enorme treinador. Infelizmente, aprendeu à nossa custa, à custa dos nossos sonhos. E não costumo ter muita consideração por quem me esfrangalha os sonhos.

terça-feira, dezembro 06, 2005 10:44:00 da tarde  

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