Juventude leonina, a concretização de um projecto...

Alegria imensa no regresso, 6 anos depois, à Champions League. O adversário temível, campeão de Itália, o vencedor do Mundial. E os portugueses, nomeadamente o Sporting sempre com maus resultados frente a estes italianos. Já não utilizam o “catenaccio”, mas fecham-se a sete chaves, com uma organização que rouba todos os espaços, e tentam sempre o golo, qualquer altura é óptima. O Sporting, neste grupo B, é à partida um outsider perante os verdadeiros colossos da Alemanha e Itália, Bayern e Inter. Para mim é fácil reconhecer que têm os melhores jogadores e ganhariam a maior parte dos jogos pois podem ser melhor equipa. Aliás, Mourinho afirmou ser o Inter a melhor equipa do momento. É de facto impressionante: ataque com Ibraimohvic, Adriano, Crespo; meio-campo com Vieira, Figo, Toldo na baliza e não jogaram Cambiasso, Materrazzi, Recoba.
É portanto, indiscutível, o valor do adversário. Tal como foi também, indiscutível a vitória, por 1-0. A equipa fez um jogo admirável, percebendo-se bem preparada, fazendo aquilo que tinha que fazer, mesmo quando foi aguentar, na maior parte da 1ª parte. Eles trocavam bem a bola, sem velocidade, nós fazíamos bem a pressão a quase todo o campo. Os nossos ataques durante a fase inicial eram “assistências” de Ricardo para os avançados. Mas nunca a equipa se desequilibrou não dando oportunidade ao Inter criar oportunidades de golo. Antes do intervalo o Sporting já ganhava mais posse de bola e experimentou uma toada de futebol de ataque, e um bom (e único, até ao intervalo) remate de Nani, a nossa nova estrela, que tentou sempre arriscar e criar lances de perigo, mas não esteve particularmente feliz. Mas esteve sempre nas jogadas de ataque. O meio-campo, o nosso “losango” já do tempo de F. Santos, aproveitado por Peseiro e que P. Bento está a refinar, fez a diferença: Miguel Veloso, que sempre que o vi jogar, jogou bem, fez esquecer “consagrados” Paredes ou Custódio. Com aquela presença, Veloso impôs-se de uma forma que garante que vamos ter competição, e opções para o lugar de trinco (e também de central). Parabéns, Miguel. Moutinho, como se veria claramente na 2ª parte, é aquele que pensa o jogo do Sporting. Maturidade muito acima da média, certeza no passe, ritmo incansável, João Moutinho vai subindo de forma. Felizmente. A surpresa surpreendente foi a aposta em Yannick, que tinha feito o seu último jogo oficial na 2ªB, e entrou a matar na Liga dos Campeões. Um lance que só não foi perfeito pois não acabou em golo. Yannick à entrada do meio-campo, vê um corredor na zona central e, em velocidade controlada acaba por não rematar, já dentro da área.
Na 2ª parte o Sporting mudou; começou a procurar o golo. Toda a equipa, começando na defesa, subiu em bloco, e ganhámos superioridade, com lances bem engendrados, com Romagnoli a ser importante, velocidade do passe e desmarcação. Pena foi que ainda joguem pouco com ele, apesar dos seus esforços em se “mostrar”. De repente… goolo!, Caneira, um golo do outro mundo, remate a encher o pé direito, fora da área, a bola a sair potente, o voo de Toldo, chega a tocar na bola, entra por cima, e salta dentro da baliza. O grande objectivo, para ganhar é preciso marcar, começava a realizar-se. A presença na Liga com regularidade, e tentar chegar o mais longe possível, é a única hipótese de termos uma equipa competitiva. Este jogo, esta vitória é o grito de vitória justa e dá a coragem para O Sporting, clube de Portugal, continuar com o seu caminho iniciado na era Roquette, a aposta na formação, a melhor escola de formação de futebol actual, a luta contra o sistema, e a favor da regeneração do futebol nacional. É uma luta que leva tempo, mas a satisfação pelos resultados é redobrada. Caneira, o filho pródigo, foi o herói, estando a muito bom nível e demonstrando a sua utilidade a defender mas também a apoiar o ataque e mesmo resolver. Todos gostamos de ver o Ronny, mas com o plantel decididamente curto, todos vão jogar em permanente luta pela titularidade. Abel e Liedson não estão em forma, mas em fibra foram dos melhores. Paulo Bento ainda surpreenderia todo o mundo; Alecsandro já estava a aquecer aquando do golo, poucos minutos depois Vieira é expulso com vermelho directo. Que faz o treinador do Sporting? Em vantagem numérica e a ganhar, desiste em reforçar o ataque, ou simplesmente troca por Yannick. Negativo, apostamos em 3 avançados, com Yannick a descer para a posição de Romagnoli. Alecsandro parece-me um bom reforço, mesmo para formar a dupla titular do ataque (para primeiras impressões, melhor que Deivid). Teve uma oportunidade, mas, … escorregou. No final, sai Nani, azelha na parte final, e entra Tello, quando o objectivo era mesmo que o jogo acabasse. Ainda pudemos fazer 2-0, que Liedson falhou, não acertando de cabeça.
Esta Liga de Campeões, em que tivemos um sorteio que leva toda a gente a pensar que o Inter e o Bayern acabarão por ser qualificados, foi um bom sorteio, pensei logo, pois vamos ter grandes jogos, e, temos sérias hipóteses de qualificação, tal como também poderíamos ser eliminados em grupos mais fracos. A receita será ganhar em casa e não perder fora. Se pensava isto antes do jogo, claro que o resultado ainda melhora as nossas chances. Mas ainda não estamos nos oitavos. Próximo jogo em Moscovo. A vitória é o objectivo, alcançável e crucial. Até por que poderemos ter Paredes, Carlos Martins, claramente o melhor jogador da pré-época, e outros, sendo aquela equipa que Paulo Bento começou a construir à 2 anos (quatro dos titulares estavam nos juniores leoninos) e que foi ganhando jogo a jogo na 2ª volta do ano passado. Essa equipa está de regresso, para melhor, mantendo a estrutura defensiva pressionante (exibições de luxo da dupla de centrais Tonel e Polga,) e o espírito de corpo reforçado, e opções em todos os sectores bastante válidas. Vamos ter após, Esforço, Dedicação, Devoção um ano de Glória? Acho que sim, espero que sim, desejo que sim. Viva o Sporting. Escrevo já sabendo dos nulos medíocres do Benfica e Porto. O Benfica contra o mais fraco da Liga, o Porto em casa contra um dos menos cotados e nosso carrasco. A procissão vai no adro…