domingo, julho 09, 2006

Mundial: para mais tarde recordar

Portugal está no grupo das grandes equipas do futebol mundial. Após o Euro 2004, a fase de qualificação e esta campanha do Mundial 2006, concedeu-nos, indiscutivelmente o passaporte para o convívio dos “tubarões”. E isso é algo que Scolari construiu: uma equipa altamente competitiva, de grande coesão e ambição capaz de dificultar ao máximo a vida dos adversários. Que o digam Holanda, Inglaterra, e mesmo França e Alemanha. Assim, em primeiro lugar, mérito máximo ao “sargento Felipão”, independentemente de algumas decisões que todos (obviamente) não gostamos e criticamos; Postiga, como primeira opção e a não-convocatória de Quaresma..

Em 2º lugar, a equipa nacional, que tanto orgulho nos fez ter nesta nossa “alma lusitana”. Figo, expoente máximo, só comparável aos “Eusébios”. Aquele golo madrugador, na abertura angolana, fica como recordação inesquecível de um momento genial; arranque explosivo e assistência com mel para Pauleta; depois Maniche o pulmão do meio-campo com momento alto no golo solitário contra a Holanda; a defesa com o inultrapassável Ricardo Carvalho (que falta fez contra os germânicos) e a afirmação peremptória de Meira. O “enfant terrible” Cristiano Ronaldo mostrou aquela “centelha divina” dos predestinados, mas muito mais se pode esperar dele no futuro. O “gigante” Ricardo será uma lenda que se contará às gerações vindouras, tal como a reviravolta de 66, de 0-3 para 5-3 com 4 golos de Eusébio, frente à Coreia do Norte; ter esperança que Ricardo defendesse um era normal, pedir que evitasse dois já seria forçado, mas opor-se a três, garantindo a presença nas meias-finais fá-lo entrar na imortalidade. Foi uma demonstração (a mais evidente) de forte mentalidade. O veloz Miguel foi uma fonte de soluções de ataque, enquanto Nuno Valente, mais sóbrio, cumpriu. Costinha deu a protecção do costume, mas faltou-lhe… “o resto”. Desilusões maiores, Pauleta e, sobretudo Deco. Foi pena. Das opções, destacou-se Simão, com um belo campeonato, Petit, infeliz no auto-golo na final da consolação, enquanto Postiga é, sem dúvida, um case-study.
Infelizmente ficou o estigma, lançado por holandeses com a ajuda do árbitro russo, apimentado maliciosamente pelos ingleses e reforçado de modo vil pelos franceses, de sermos uma equipa de simuladores teatrais, uma mentira que fez história e que dificilmente será esquecida. Mas muitos sabem, aqueles que gostam de futebol, que somos uma equipa que joga bom futebol tem um estilo de jogo próprio que não fica atrás dos melhores do Mundo. Aliás, os melhores jogos que fizemos foram contra a França e a Alemanha, aqueles que perdemos! Esta campanha será recordada com saudade fazendo esquecer a gesta dos Magriços. Obrigado Portugal.

Este Mundial cimentou o futebol-resultado, que muitos se queixam, por retirar beleza (?!) ao jogo. “Antigamente” é que era bom, dizem, esquecendo que hoje o futebol não é amador, pelo contrário altamente profissional. Todas as equipas (e naturalmente aquelas que ganham títulos), preparam um esquema em que a segurança defensiva, o roubar espaços ao adversário é um “must”. Não é fácil ultrapassar isto. Não é de facto como antigamente… A primeira linha de candidatos, Brasil, Alemanha e Argentina não chegaram à final. Os brasileiros, nunca chegaram a convencer, embora superiores na primeira fase, nos oitavos de final brindaram com injustos 3-0 o Gana e tombaram com a França; o seu melhor jogador foi Kaká enquanto Ronaldinho decepcionou. Alemanha que se assumiu após o 1º jogo foi uma boa surpresa, com uma dupla atacante Klose – Podolski poderosa, e um lateral espectacular, Philipp Lahm. O seu futebol de conjunto conseguiu bater a Argentina nos quartos (desempate a penalties) e baqueou na meia-final com a Itália após prolongamento. A Argentina, começou com uma vitória feliz, e brindou com 6-0 a Sérvia, garantindo o 1º lugar no 0-0 com a Holanda. Com jogadores de nível mundial, no ataque Carlos Tevez, Saviola e Crespo, um meio-campo onde Riquelme era o maestro, Cambiasso e Mascherano davam a consistência, deram-se ao luxo de manter Aimar e sobretudo esse prodígio Messi no banco. Ao renunciar ao seu futebol, para guardar a vitória frente à Alemanha, os azuis-celeste foram eliminados. Após o resultado é fácil criticar, mas a história assim o registará.

Na segunda linha de candidatos, posicionavam-se a Inglaterra e a Itália, seguidos de perto pela França. Espanha, Portugal, Holanda e Rp. Checa (a grande desilusão) seriam os outsiders. Dos ingleses não rezará a história deste Mundial. Uma boa primeira parte contra a Suécia (e sobretudo Joe Cole) é muito pouco. Lampard e Gerrard não conseguiram impor-se, enquanto o “louva a deus” Crouch e a força da natureza W. Rooney estiveram abaixo daquilo que se esperava. A Itália, amada ou odiada, fez um Campeonato “de trás para a frente”. Beneficiada por erros da arbitragem, (Gana e Austrália), foi o carrasco da Rp. Checa e apareceu na fase final quase perfeita, 3-0 à Ucrânia (boa estreia) e, num jogo épico, afastou a grande Alemanha da final. Cansa ver Gattuso, e a sua defesa comandada por Buffon, naquela que é a equipa que melhor representa o futebol eficaz, onde não se cometem erros. A França nunca jogou mal, embora tenha obtido dois miseráveis empates. Depois num dos belos jogos deste Mundial bateu a Espanha, que estava a ser uma das melhores equipas; foi o renascer desse mago que é Zidane, um dos melhores futebolistas de sempre. O jogo com o Brasil (que não vi) garantiu a presença na meia-final de má memória contra nós. Agora vão disputar o seu 2º título com a Itália. Da Holanda a confirmação de Robben, da Rp Checa a despedida de Poborski, de Nedved (grande jogador) e a má sorte de Koller.
Por razões profissionais estive na Alemanha durante este Mundial. O ambiente foi extraordinário, difícil de descrever. A alegria de conviver com todos os adeptos, a descontracção no apoio às equipas o modo como a euforia e a desilusão permanecem próximas, faz com que o futebol e a sua vivência sejam hoje motivo de estudos sociológicos. Como transformar esta “serenidade entusiasmada” para os outros aspectos da vida? Ficou-me uma certeza: todos os povos se entendem e mesmo com a paixão própria do querer ganhar, sobra espaço para o entendimento, respeito e mesmo solidariedade. Para quando este espírito positivo no nosso Campeonato e na relação entre países?

2 Comments:

Blogger Rantas said...

Esse "estigma" de que falas tem dois aspectos que acho muito curiosos:

1 - Neste Campeonato, começou com os holandeses. Mas a verdade é que quem fez batota e quem não teve fair-play foram eles, com Marco Van Basten à cabeça. Isso foi aliás referido pelo próprio árbitro. O jogo com mais cartões da história dos Mundiais, curiosamente, foi pouco faltoso...

2 - Não sei se como resultado da campanha de "intoxicação" levada a cabo por holandeses, ingleses e franceses, a verdade é que fiquei com a impressão - especialmente contra franceses e alemães - que os atacantes portugueses se jogaram para o chão com um certo exagero (nomeadamente, Cristiano Ronaldo e um tal de Postiga que insiste em armar-se em jogador da bola). Vocês não acharam?

domingo, julho 09, 2006 3:41:00 da tarde  
Blogger Redus Maximus said...

Saudações!
Excelente post. Gostei bastante. Também senti, durante o Euro 2004, que o futebol é um excelente aglutinador de emoções, sã convivência e dá-nos a esperança de que é muito fácil os povos entenderem-se uma vez que somos todos iguais. Diferentes mas iguais.

O Postiga por exemplo, com o equipamento, é igual a um jogador de futebol. Mas se lhe juntarmos uma bola fica logo diferente!

segunda-feira, julho 10, 2006 12:44:00 da manhã  

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