quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Rapaziada, ouçam bem o que eu vos digo




Os jornais desportivos publicaram ontem duas entrevistas essenciais para que se perceba o actual momento do Sporting.

Desde logo a de Dias da Cunha, que relata dois factos importantes: o primeiro, que Soares Franco e ele próprio combinaram, aquando da sua demissão, que aquele seria uma mera solução transitória, ficando excluida a possibilidade de se vir a candidatar. Alegadamente, foi o próprio Soares Franco a "exigir" esta condição para aceitar a presidência no período de transição. O candidato natural da "continuidade" seria, para ambos, Ernesto Ferreira da Silva. Entretanto, este anunciou que não se candidataria, o que desde logo Dias da Cunha estranha. E Soares Franco resolve avançar, contra tudo o que ficara estabelecido. Dias da Cunha sente-se traído. Com razão, parece.

Na entrevista, o anterior presidente do Sporting diz também que, no famigerado "project finance" negociado com dois bancos, não está prevista a necessidade de venda de património. Equaciona-se, isso sim, a eventual cedência para exploração do edifício sede e de Alvaláxia a um fundo imobiliário, nunca a sua venda, e só deste património, nunca do multidesportivo, da clínica e do Holmes Place. Dias da Cunha interroga-se porquê, agora, esta urgência de vender o património e logo todo o património...

Já João Rocha, em entrevista a outro jornal, vai ainda mais longe e não deixa pedra sobre pedra em relação ao "projecto Roquette", chegando a afirmar que este "liquidou o Sporting". Segundo o antigo presidente, Roquette recebeu um passivo de 4 milhões de contos, situando-se este, agora, em mais de 60 milhões. Convenhamos que, em termos de gestão, não é famoso.

As ideias com que fiquei:

1 - O ecletismo do Sporting está agonizante. Soares Franco quer matá-lo de vez.

2 - O Sporting, depois de realizar fantásticas receitas extraordinárias, com a venda dos poucos terrenos que ainda tinha, dos melhores jogadores da formação, dos lugares cativos do novo estádio, de receber as ajudas do Estado para a construção das novas infraestruturas, de reduzir (supostamente) despesas de funcionamento e orçamento para o futebol ou de baixar dos 100 mil para os 30 mil sócios, está na penúria. Tem o estádio e infraestruturas adjacentes e a Academia. Nada mais.

3 - Quando se avançou para a construção do novo estádio, justificou-se com a ideia de que a exploração de Alvaláxia e do restante património tornariam toda a infraestrutura lucrativa. É-o, ou não? Se não é, o que falhou? Se é, porque se quer vender? Para reduzir custos com juros? Mas, para a satisfação da dívida, não foi feito um "project finance"? O que mudou? O que se passa?

4 - Sporting, um clube só de futebol, com o fim das modalidades, em que os sócios já não o são mais, passando a ser encarados unicamente como "cash cow"? - Já não seria o Sporting pelo qual sempre estive apaixonado. Não, obrigado.

5 - Sporting dirigido por um tipo que, alegadamente, falha todos os compromissos que assumiu com quem o colocou na posição que hoje ocupa? - A ser verdade, também não, obrigado. Para canalhices, temos exemplos que sobrem noutros clubes.

Uma coisa é estranha: Dias da Cunha retirou, com esta entrevista, toda a confiança em Soares Franco. Por seu lado, José Roquette manifestou publicamente o seu apoio ao candidato a candidato. Afinal, já não se fala a uma voz e em continuidade. Por isso, este é o momento em que o Sporting vai ter que mostrar a sua grande força, a força dos seus sócios. Somos nós que devemos agarrar as rédeas.

Dia 23, em Assembleia Geral, devem-se dicutir todas estas questões. Importantes demais para que qualquer sócio do Sporting fique à margem. Pela primeira vez, na minha vida de associado, estarei presente nesta magna reunião. Espero que, no seu decurso, todos possam exprimir, serenamente, os seus pontos de vista. Civilizadamente. Só assim o Sporting ganhará este desafio. Os arruaceiros do costume podem ir para as roulotes mamar "minis". Não fazem falta. Esta tem de ser uma discussão entre homens civilizados. Eu - modéstia à parte - já sei porque é que, no dia 23, não fico em casa.

8 Comments:

Blogger obelix said...

Estou muito de acordo, julgo só que a análise se pode estender a todos os clubes.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006 12:39:00 da tarde  
Blogger manolo said...

Neste momento confesso estar muito indeciso. Penso que os pilares devem continuar a ser (?) contas rigorosas e a aposta na formação para ter uma equipa altamente competitiva. Isso passa, claro, pela redução de custos para não depender da aleatoriedade das "bolas ao poste".Para já o interesse pela Presidência está "assanhado" e isso é positivo. O perfil do meu presidente terá que ser de tal forma que eu sinta orgulho da sua participação. Neste momento temos 4 candidatos, e não excluo nenhum deles. As grandes questões: 1) vender património, deve ser evitado; 2) Reduzir o Sporting a um clube só de futebol; embore me custe (Carlos Lopes no Atletismo, Joaquim Agostinho no ciclismo, Livramento no hóquei e Lisboa no basquete) penso que poderemos viver bem com isso. As questões pessoais (J. Rocha - Roquette e Sousa Franco - Dias da Cunha) não as levo muito a peito. Voltarei, claro, a este tema.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006 7:14:00 da tarde  
Blogger manolo said...

Claro que o malogrado Sousa Franco não é para aqui chamado; queria dizer Soares Franco

quinta-feira, fevereiro 16, 2006 7:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oh Ranys avanca, estamos contigo!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006 1:50:00 da tarde  
Blogger Rantas said...

Reporter Harpic sempre em cima do acontecimento, sob a capa do anonimato!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006 10:22:00 da tarde  
Blogger Alex said...

Embora esteja a meter foice em seara alheia, gostaria de saudar o regresso da democracia ao Sporting ! Há dez anos que não tinham hipótese de escolher o vosso presidente !
Mas sigo o assunto , de soslaio, e de facto aquilo está complicado. Ainda não percebi é qual a alternativa a Filipe Soares Franco ?! Qual é o vosso candidato ? Está tudo contra vender o património, mas... O que interessa são as receitas e os custos. E aí é que não se percebe.Não estão a diminuir os custos há anos ? Não vendem as pérolas ? Não tem sempre o estádio "quase" cheio ? Foram à final da taça UEFA e... Alguém me explica ?
O que eu vos digo é que os campeões da gestão moram no outro lado da segunda circular.
Saúdinha

sábado, fevereiro 18, 2006 12:15:00 da manhã  
Blogger El Ranys said...

Oh Alex, rapaz, tem juízo.
No outro lado da segunda circular já moraram muitos campeões da gestão, o maior deles o Vale e Azevedo.
Realmente, é difícil perceber o que se passa na gestão do Sporting e como é possível ter chegado a este estado. Insisto mais uma vez: não era Alvaláxia, o edifício Visconde de Alvalade, a clínica e o Health Club que iam tornar a exploração de todo o recinto rentável? Então, o que falhou?
Aqui, algures, tem de haver má gestão. Ou o porjecto Roquette era mau, fazendo cálculos errados, ou alguém tem feito, ao longo dos anos, muita asneira. O que não percebo é como o Sporting pode, algum dia, vir a ser rentável. Se nem com a venda de Quaresma, Ronaldo, Hugo Viana, Danny, Rochemback, Enakarire (só para falar dos últimos poucos anos), por somas extraordinárias, como iremos?
Se mesmo em 5 anos fomos 2 vezes campeões e estivemos numa final da taça UEFA, o que proporcionou elevadas receitas de bilheteira, TV, publicidade e merchandising, conseguimos equilibrar as contas, como conseguiremos?
Que raio de projecto e de gestão são estes?

Agora, Alex, uma coisa é certa: no Sporting, cotado na CMVM, todos sabem o que se passa. As audiotrias são feitas anualmente, os bancos estão em cima, tudo é passado a pente fino.
No outro lado da segunda circular deve haver algum milagre. É tudo de boca e tudo está bem. Uma maravilha. E vocês, tolos, acreditam. Como acreditaram no Vale e Azevedo. Que fazer? São um caso perdido.

sábado, fevereiro 18, 2006 2:02:00 da manhã  
Blogger Alex said...

El Ranys, o que queres que te diga ? A situação no Sporting, tal como tu a descreves, e eu concordo é incompreensível. Já a do Benfica é a que se sabe. Aconselho a ler a entrevista do Domingos Soares de Oliveira. É verdade que acreditamos no Vale e Azevedo e enganámo-nos. Pelo menos fomos nós que o escolhemos. Deixa-me sublinhar mais uma vez : finalmente, após dez anos, os sócios vão escolher os seus dirigentes. E felicito-te por, pela primeira vez ires a uma Assembleia do Sporting !...
Saúdinha

sábado, fevereiro 18, 2006 3:19:00 da tarde  

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