Uma coisa é uma coisa Outra coisa é outra coisa

O título deste post representa um ensinamento importante de que por vezes nos esquecemos, caindo na tentação de misturar alhos com bugalhos. Vem isto a propósito de diversos comentários que leio por aí, tanto em blogs como em jornais, a defender o afastamento de Carlos Queiroz porque não gostaram da prestação portuguesa na Fase Final do Mundial 2010.

Chegou-se ao cúmulo de uma "jurista", uma tal de Marta Rebelo que começou a escrever agora no Record, invocar a sua natureza de oráculo do bom Povo Português (que na sua augusta opinião exige que Queiroz saia) para exigir que... Queiroz saia, com base nessa "vaga de fundo" que a senhora quis cavalgar. Ora aqui está um bom argumento, redondo, sem falhas. Pois se é o Povo que exige...

O que é triste nesta história toda é que quem exige que Queiroz saia fá-lo por vários motivos - seja porque a selecção deveria (poderia?) ter sido mais ambiciosa no Mundial, seja porque ele ganha muito dinheiro, ou porque é professor, ou ainda porque é vaidoso, ou porque, pecado dos pecados, há uns anos atrás substituiu Paulo Torres ao intervalo num Sporting-Benfica.

Ainda não encontrei ninguém que defenda que Queiroz deve sair pelo que está na origem desta tramóia toda - a c*** da mãe do sr. Luis Horta, o famoso impropério que supostamente fez com que um dos médicos (não sei se o próprio Luis Horta ou se outro) se tivesse esquecido não-sei-do-quê na recolha das amostras. E é aqui que a história se torna verdadeiramente chocante. Se Queiroz não tem competência, despeçam-no. Melhor, tivessem-no despedido há uns meses atrás, logo após o Mundial. Agora não.

Mas não queiram é aproveitar-se do desabafo da c*** da mãe para emendar a mão, porque não emendam, antes pelo contrário. Além de que, quem escolhe o seleccionador é a FPF, não é nem a ADOP nem o Governo. Lá está, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"...

O que fez Queiroz, afinal? O que qualquer pessoa de bom-senso faria numa situação daquelas - às 7:45, tentar que os médicos deixassem os jogadores dormir mais uns minutos. Quando esbarrou na intransigência da equipa anti-doping nesse pequeno adiamento (teriam combinado um almoço na Mealhada?), teve o tal desabafo infeliz. Toda a gente sabe que não tem nada a ver com a infeliz da mãe do Luis Horta, é uma expressão castiça que uma grande percentagem do Bom Povo Português utilizaria numa situação daquelas, mesmo à frente de meninos copinhos-de-leite, como pelos vistos estes médicos são.

Então o que move este processo? Nada de substancial ou de objectivo. O que está por trás de tudo isto, as grandes motivações, são raiva, inveja, a velhinha luta de poderes na FPF.

São ainda ecos da reacção à famosa frase de despedida de Queiroz do cargo de seleccionador, há uns anos atrás. É a revolta da "porcaria", que só revela que não só lá permanece mas que está mais forte do que nunca. Quanto a mim, a sentença foi dada quando Queiroz foi recebido por Nelson Mandela, na África do Sul, sem que tivesse pedido autorização prévia a Amândio de Carvalho, a "cabeça do polvo", o senhor ressabiado porque Queiroz é uma personalidade reconhecida mundialmente, e o Amândio de Carvalho é um perfeito desconhecido. E é isso que lhe dói.