E PLURIBUS UNUM

Depois dos últimos resultados na Liga, os jogos contra o Liverpool e contra o Porto assumiam contornos fatais. Em caso de não vitórias era a época arruinada ! Muitos (p. ex. José António Lima) vaticinavam o naufrágio completo do Benfica.
Depois da grande vitória sobre o Liverpool recebíamos o líder da prova e, actualmente, o grande rival do clube da Luz. Não há vitória mais saborosa, para mim, que a sobre o FêCêpê.
As estratégias. Os dois velhos conhecidos holandeses, em disputa pessoal, e que, ao contrário do que a maioria dos comentadores dizem, têm vindo a acrescentar algo ao futebol português, queriam muito ganhar. Koeman não tinha alternativa, e Adriaanse tinha a oportunidade de aniquilar o adversário.
Como em equipa que ganha não se mexe (máxima que quanto em mim está completamente desactualizada), todos apontavam para a manutenção do onze. Koeman trocou Beto por Karagounis por razões óbvias. No Porto, havia a grande expectativa para ver se Adriaanse mantinha a sua táctica de 3x3x4. Como se recordam palpitei que ele mudaria. Não mudou. Muitos disseram que só um louco não mudava ! Embora este 3x3x4 conte com um jogador fabuloso de nome Paulo Assunção que neste Porto vale por dois ! Depois existe a questão Baía. E, de que maneira ela se agudizou ! A questão Baía é que depois de ter sido ignorado pelo seleccionador Scolari, e depois de um perú na Amadora Adriaanse o ter atirado para o banco, aparece num jogo desta responsabilidade por o titular se ter lesionado. Baía, o campeoníssimo Baía, quer demonstrar que estão enganados e ele é o verdadeiro nº 1 em Portugal ! Era um jogo de vida ou de morte ! Morreu !
Desejo toda a sorte ao Vitor, que é mais um dos imortais guarda-redes que este país produziu. Mas vai jogar sobre brasas contra o Nacional !
O Jogo. Quase 60 mil, mais uma vez, unidos na vontade, no querer, no acreditar...
Na minha opinião, o início do jogo foi bom. Foi um jogo muito táctico, sem espaços, de luta sem quartel, onde se lutava por cada metro de terreno, aonde ninguém queria perder uma bola.
O Benfica entrou muito lutador, pressionante sobre os defesas, com bastante agressividade mas com muita precipitação (nervosismo) na transição defesa-ataque. O Porto com mais troca de bola, tentando meter as bolas nos seus avançados, mas sem abrir uma brecha. Não houve quase remates à baliza. Lembro-me de um bom cruzamento de Alcides em que P. Assunção tirou o pão da boca a Robert. Um remate frouxo de Robert. Uma grande jogada de combinação Leo-N.Gomes-Simão que assiste (para trás) Nuno Gomes que embalado chuta forte mas muito por alto.
Depois aconteceu o golo. Um golão ! A 40 metros de distância, Robert dispara forte, a bola descreve um arco e bate à frente de Baía, que surpreendentemente, qual anedota de filmes italianos, a deixa entrar. Golo à Roberto Carlos. Robert começa a justificar a contratação !
Este golo transformou completamente o jogo. A partir daí, o jogo acelerou, foi uma corrida sem parar até ao fim ! Nesses minutos que faltavam para o intervalo (5), McCarthy teve oportunidade para empatar o jogo, no primeiro remate, virando-se muito bem sobre Anderson e chutando, por sorte, fraco e à figura. Logo depois, numa excelente assistência de Simão, Nuno Gomes desperdiça, quando estava isolado e com tudo para matar o jogo! Não foi capaz.
Intervalo. Segunda parte tudo igual ao fim da primeira. Bola cá, bola lá. Benfica a pressionar, obrigar os defesas a desfazerem-se da bola e o Porto a ir mais para a frente, com tudo. Paulo Assunção deixou de ser defesa e subiu, e passaram a jogar realmente em 3x3x4. A verdade é que não construiram nenhuma oportunidade, apenas alguns cantos uns cruzamentos mas sem criarem verdadeiro perigo, e abriam espaços que o Benfica tentava aproveitar. Com as substituições a equipa do Porto partiu-se completamente. Ãqui Koeman cilindrou Adriaanse. Este, completamente irrealista (incompetente ?) tira Ivanildo por Lisandro e Rui Meireles por Jorginho. passou a jogar com 3 defesas e P. Assunção e Lucho no meio campo, Jorginho atrás dos dois pontas e Quaresma e Lisandro nas alas. Ainda tirou Quaresma para pôr Hugo Almeida ! Foi o descalabro na equipa. Koeman troca Beto por Karagounis, reforçando o meio campo e pôe Marco Ferreira por Robert. Evidentemente queria velocidade. Marco Ferreira falhou. Se Koeman tivesse escolhido Manduca, estou convencido que teríamos aumentado o placar !
Mas o jogo estava frenético, e quem não marca, arrisca-se a sofrer. A defesa do Benfica ía chegando para as encomendas mas...1-0 é sempre curto ! Chegaram a vir com a bola 3 jogadores para 2 do Porto !
O Porto, apesar de tantos jogadores no ataque não teve uma oportunidade clara de golo. A melhor, Lisandro recebe a bola na área, solto de marcação, chuta, mas estava lá a barreira constituída por Alcides e Luisão a tapar o caminho da baliza.
Lembro-me de uma jogada em que o Luisão rechaça a bola três vezes de cabeça, inclusivé tira a bola a um colega. Parecia que estava em todo o lado ! Eu voto em Luisão como homem do jogo. Enorme na entrega, na força, na confiança, na paixão ! Actualmente, o melhor jogador a jogar em Portugal !
Final do jogo ! Vitória ! Estamos na Luta ! Não me recordo de uma vitória ser tão consensual. Não me lembro de um treinador dizer tão claramente que o Benfica foi mais forte e mereceu ganhar !
O Campeonato renasceu ! Não só para o Benfica, mas para o Sporting, Braga e até o Boavista. Temos das ligas mais emocionantes da Europa.
Faltam 10 jogos. O Glorioso continua nas três frentes. Neste momento a 5 pontos do Porto, a 3 do Sporting e a 1 do Braga, acredito que vai ultrapassá-los a todos e chegar à frente. De quase moribundo torna-se, depois destes 2 jogos o candidato mais crente na vitória final.
O Benfica é mais que a sua equipa de futebol. O Benfica tem uma força, uma Mistíca, que mais ninguém tem, e torna-se, por essa mistíca, o mais sério candidato ao título.
E pluribus Unum !
Saúdinha