Ainda a AG do Sporting - razões para a derrota
Estou firmemente convencido que a derrota na AG se deveu mais à arrogância e à subalternização dos sócios que desde há 10 anos se verifica no SCP, do que à matéria de facto.
Estou firmemente convencido que mais do que 64,54% dos sócios e dos sportinguistas estão convencidos da necessidade premente de alienar património. Se a proposta não passou, isso deve-se aos anti-corpos gerados pelos gestores.
Por isso são maus gestores. Eu trabalho numa empresa de consultoria. Somos obrigados a satisfazer 3 interesses por vezes antagónicos: os Clientes (quem contrata os nossos serviços), as Pessoas (quem trabalha, os recursos humanos, o nosso activo mais valioso) e os Accionistas (quem investe e aguarda retorno desse investimento). Eu posso corresponder mais ou menos a cada um dos interesses envolvidos, mas se um deles ficar insatisfeito, não faço negócio. Se vender barato, o cliente rejubila, mas o Accionista não. O contrário também é verdadeiro. Se obrigar as Pessoas a trabalhar todos os fins-de-semana, o Cliente fica satisfeitíssimo pela rapidez com que lhe resolvo problemas; as Pessoas começam a ler o Expresso Emprego com mais cuidado... se não existir uma harmonização entre as 3 forças envolvidas, o projecto falha, forçosamente.
No caso do Sporting, julgo que se pode dizer que as Pessoas correspondem aos Jogadores e os Accionistas aos investidores (com os bancos à frente). E os Clientes, quem serão? Obviamente os Sócios. Foi aí que as Direcções do SCP falharam miseravelmente, ao ignorarem ostensivamente essa dimensão. Um clube como o Sporting simplesmente não pode ter apenas 30.000 sócios!!
Mas se os gestores são maus, os sócios também não estiveram à altura do acontecimento. Confundiram a autorização para vender património (para a qual a maioria entende como inevitável) com um plebiscito à actual Direcção. Claro que essa confusão foi fomentada por FSF e seus parceiros, mas esse facto não retira a responsabilidade aos sócios. A autorização à venda não deveria ser pertença de FSF, a oposição poderia e deveria ter agarrado essa bandeira. Não o fez, e agora o Sporting corre o risco de entrar em profunda crise directiva. Valha-nos Paulo Bento e sus muchachos, caso contrário a situação estaria bastante pior, ainda.
2 Comments:
De facto, está contido neste post aquilo que realmente nos distingue na nossa visão sobre o SCP.
Tu, que és "consultor" (outro tecnocrata, portanto), olhas para os sócios do Sporting como "clientes". Não tenho dúvidas de que, para a gestão, esse é um olhar fundamental, pelo que devem ser seguidas políticas de CRM e de marketing.
Mas o que não entendes - desculpalá, mas talvez por não seres sócio - é que os sócios são também, em sumltâneo, DONOS do clube. Accionistas, na tua visão tecnocrata. Esse é, também, o pecado original da gestão dos últimos anos. A maior força do Sporting é os sportinguistas. Sem eles, ou contra eles, não há Sporting.
Atenção que a maioria dos sócios presentes à AG votaram a favor. Houve uma minoria que se opôs, não contra o projecto em si, mas contra essa "troupe" que têm sido os dirigentes do Sporting nos últimos 10 anos e castigá-los pela subalternidade com que trataram os sócios. (especialmente nas cooptações, digo eu). Há também outro motivo, este não tão acessório, na minha opinião: podia ter levado este projecto directamente a eleições, dando oportunidade a ouvir alternativas. Mas, o importante é que a maioria clara esteve com este projecto e indirectamente "descriminalizou" a tal "troupe"...
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