Parar, escutar, olhar
O resultado da votação na AG do Sporting é, para mim, positivo. Na sequência de tudo o que tenho aqui escrito sobre o assunto, quero mais uma vez, e desde logo, esclarecer o seguinte: não sou contra a venda de património. O que me interessa, no Sporting, é o desporto, e não se tem, ou não, centros comerciais e edifícios administrativos.
Mas, para mim, o que realmente sempre esteve em causa na AG foi o seguinte:
1 - Há 10 anos atrás, o Sporting foi "assaltado" por um conjunto de tecnocratas, que se propuseram impôr uma receita de rigor, projectos empresarias e transparência. Estive de acordo. Sempre apoiei o "projecto Roquette". Quando, noutros clubes, via "operações coração", gestões Vale e Azevedo e coisas desse tipo, sorria condescendentemente e dizia aos lampiões: olhem para nós, temos uma gestão exemplar, gente séria, um projecto que nos vais transformar num exemplo.
2 - Até que, de repente, Filipe Soares Franco põe o dedo na ferida e desmascara a ilusão: afinal, o Sporting, por este caminho, não é viável, a boa gestão dos últimos dez anos é uma ficção, precisamos vender tudo o que é não desportivo (afinal, aquilo que constitui a essência, ela própria, do "projecto").
3 - Durante estes últimos anos, todos os sportinguistas se resignaram às vendas de Simão, Duscher, Hugo Viana, Quaresma, Cristiano Ronaldo, Enakharire... Só nos últimos seis anos, com a venda desta lista de jogadores (e só destes jogadores, faltam aqui muitos outros que fariam o valor disparar) a SAD encaixou mais de 60 milhões de euros. Repito, 60 milhões de euros. Resignámo-nos, em nome do rigor da gestão e das boas contas. Afinal...
4 - Afinal, a tecnocracia que tomou conta do Sporting falhou em toda a linha. Uma surpresa muito desagradável para todos. Onde anda José Roquette, na hora de assumir responsabilidades? Alguém o viu, ontem, na AG? Eu, que estive lá do princípio ao fim, não o vi. Sintomático.
5 - O grande problema da proposta apresentada por Filipe Soares Franco não é a proposta em sí mesma, é a forma como foi apresentada, com uma chantagem inadmissível. Aliás, diga-se que Filipe Soares Franco vem na linha da tal "tecnocracia". Com ele, estão todos os que representam essa via, com destaque para o próprio José Roquette. Contra FSF, a voz que mais se ouviu foi, justamente, aquele que é, para mim, o principal responsável pela penúria do Sporting: Dias da Cunha. Foi ele o gestor que durante mais tempo conduziu o "projecto" agora enterrado. Mal estávamos se não fosse possível ouvir outros protagonistas, que não sigam a linha "projecto".
6 - Com a derrota em AG da proposta da direcção, os sportinguistas presentes (e só esses contam) quiseram dizer: não há mais cartas brancas. O "projecto" falhou em toda a linha. Soares Franco é do "projecto", por muito que agora se queira demarcar. Porque não falou antes? Porque não avisou os sportinguistas? Porque continua a não criticar toda a gestão dos últimos anos?
7 - A proposta de Soares Franco era uma proposta para continuarmos a empobrecer alegremente. Será que há outras alternativas? Abrantes Mendes, por exemplo, diz que sim e que as vai apresentar na campanha eleitoral que se aproxima. Esta é a verdadeira mensagem de esperança. E é isto que, com a minha abstenção - sim, não votei contra, pus uma cruzinha na abstenção - eu quero: ouvir quem propõe alternativas. É a campanha eleitoral, em que todos lutarão com armas iguais, que deve esclarecer os sportinguistas. E não uma encenação de plebiscito, como FSF a montou, que deve decidir o futuro do Sporting. Com a AG do Sporting, ganharam os sócios, ganhou o clube. Perdeu a tecnocracia protagonizada por uns tantos "iluminados".
8 - Tendo a votação ficado a uma unha negra da aprovação da proposta de FSF, este tem a obrigação moral de ser candidato. Afinal, QUASE dois terços dos sócios que foram à AG (e só esses contam), apoiam a sua visão. Por respeito por esses sócios e pelas suas próprias ideias, FSF tem de ser candidato. A chantagem não funcionou. Venha a discussão aberta, democrática, com contraditório. O Sporting só tem a ganhar. Viva o Sporting. O futuro é nosso.
8 Comments:
Sempre achei o processo pouco democrático e injusto para os outros candidatos. Mas compreendo a posição do FSF: "só quero ir a presidente nestas condições, de outro modo nem me candidato", e a maioria dos sócios (só os presentes, aqueles que contam, desculpa não ter ido, e ter opinião). Querer responsabilizar (fazer pagar a culpa) do fracasso da Alvaláxia e dos lucros que se esperava e que não vieram é acessório face ao essencial: não queremos vender os nossos melhores jogadores para termos uma equipa que esteja na Champions. Venham as alternativas.
"e a maioria dos sócios apoiaram o seu projecto", queria eu dizer
Oh meu caro Manolo,
Eu é que peço desculpa se de alguma maneira feri a tua susceptibilidade. A tua opinião é sempre bem vinda e mais importante do que, por exemplo, a do Rantas, que fala muito mas nem sequer se dá ao trabalho de se fazer sócio (e como o Sporting precisa de mais sócios pagantes) - desculpem lá, mas tinha que mandar mais uma farpa ao Rantas...Já te fizeste sócio, pá?
Mas, Manolo, o que eu queria dizer era que só os sócios que estiveram na AG contam (contaram) para a decisão que foi tomada. Os outros, os que não estiveram presentes, têm todo o direito à sua opinião, só que essa não conta para o que se passou ontem à noite.
Não me fiz sócio, não. Apesar disso, até podia ter ido à AG de ontem, em representação do meu filho de quase 3 anos. Acho que é viável, não sei... só me lembrei dessa hipótese hoje de manhã.
Poderia dizer que o facto de eu não ser sócio só a mim diz respeito, mas por acaso não penso assim. Creio que diz também respeito à gestão do Sporting. Explico porquê.
Deixei de ser sócio do Sporting em 1985, quando fui estudar para Coimbra, passando assim a ter baixíssimas hipóteses de ir regularmente a Alvalade. Grandes jogos assisti ao lado do El Ranys e do Manolo!
Na altura, a quota era de 300$00. Os 100$00 de quota da Briosa pareceram-me mais simpáticos, e continuei a ir à bola até que um mergulho de Paulo Futre (com a camisola do FCP) na grande-área da Académica, numa tarde chuvosa, me fez descrer.
Regressei a Lisboa em 1992 (o curso não se revelou tão espinhoso como possa parecer; difícil, difícil, foi a despedida, porque é de facto aí que Coimbra tem mais encanto...).
Nunca, nunca, fui contactado pelo Sporting para voltar a ser sócio. Obviamente que se poderá dizer que, se eu quiser ser sócio, basta-me ir ao estádio. Mas a verdade é que não me dei ao trabalho. Reconheço que talvez, com uma pequena demonstração de vontade do Sporting, me teria feito à estrada e seria neste momento um dos sócios "perdedores" da AG de ontem. Isto tudo para dizer que falta, tem faltado nos últimos anos, uma certa proactividade do lado do Sporting para angariar sócios. O kit do Benfica foi e é uma excelente ideia. É risível o objectivo de LFV chegar aos 300.000 sócios? Não, risível é o Sporting ter apenas 30.000 sócios e nem sequer se dar ao trabalho de tentar ter mais. São muito importantes? Não querem "sujar" as mãos?
Enfim, perdi-me um pouco. É verdade, não sou sócio. Mas sou sportinguista (daqueles que não vão ao estádio) e tenho uma opinião (mesmo não tendo direito a voto). A minha opinião foi expressa e coincidia, pelos vistos, com 64,54% dos sócios da AG. Faltaram cerca de 2%. Isso, em 3.000 sócios, são cerca de 60 sócios. Já viram bem quão perto se esteve?
Não concordo contigo, Ranys, quando dizes que FSF se deverá recandidatar. Penso que ele não o vai fazer. Fazendo-o ou não, a verdade é que a AG foi inconclusiva, pelo que teve um resultado péssimo. Antes tivesse sido claramente contra a proposta de FSF. Assim, não.
A propósito: escreve-se Enakarhire
Rantas,
Concordo em absoluto contigo em relação ao "deixar andar" das direcções do Sporting relativamente à recuperação de antigos sócios e angariação de novos. O facto de só termos 30 mil sócios pagantes é, no mínimo, triste.
Também eu fui feito, menino e moço, sócio, condição que mantive durante muitos anos. Depois, passei uma temprada fora de Portugal e, como deixei de pagar quotas, deixei de ser sócio. A seguir, também os meus anos de Coimbra, algumas deslocações a Lisboa para ver jogos em Alvalade, mas sempre como adepto. Só quando regressei a Lisboa, há uns poucos anos atrás, recuperei a minha condição de associado, por iniciativa própria. Creio que o Sporting podia ter feito qualquer coisa, dado um incentivo qualquer para que isso tivesse acontecido mais cedo, mas tal nunca se verificou. Um dos aspectos em que estas direcções falharam rotundamente.
Quanto à correcta ortografia de Enakarhire, obrigado pela informação e - aproveitando a onda - vai bardamerda ;D
Nunca o Harpic pensou em que esta história do bardamerda pegasse tão bem aqui, logo num 'blog de pessoas civilizadas'. Mas devo dizer que, se Harpic é o grande sacerdote do bardamerda, El Ranys é o seu maior profeta! Porra, moço, cala-te lá com essa merda do bardamerda que já ninguém te pode ouvir! :D
Cantarei até que a voz me doa. Palhaço.
Enviar um comentário
<< Home