sábado, janeiro 14, 2006

Tempos difíceis

Também eu quero comentar aqui a importante entrevista de Filipe Soares Franco, Presidente do Sporting, publicada ontem pelo jornal "A Bola".
À semelhança do que o Dever devamos fez no post anterior, com cujo teor, em geral, concordo. Soares Franco dá, na sua entrevista, dados importantes para que se perceba o que está a ser feito no Sporting, nomeadamente ao nível da gestão, mas apresenta também contributos importantes para a reformulação e saúde do futebol português, na linha, aliás, de Roquette e Dias da Cunha.
O dinheiro
Convenhamos que o quadro financeiro do Sporting é algo negro. Atentemos:
- Nos últimos anos, o Sporting vendeu, por vário milhões de euros, algumas das suas maiores pérolas: Simão Sabrosa ao Barcelona, Hugo Viana ao Newcastle, Quaresma ao Barcelona, Cristiano Ronaldo ao Manchester, Enakarire ao Dinamo de Moscovo... Muito dinheiro a entrar, portanto;
- Na despesa com o futebol profissional, o Sporting tem um orçamento que é dois terços o do Benfica e metade do Porto.
- O sporting investiu 185 milhões de euros no novo estádio e na academia.
A discriminação escandalosa
Escandalosa é a diferença entre as ajudas do Estado, quer directas, quer através das autarquias, aos principais clubes. No total, incluindo uns nebulosos "benefícios indirectos" relacionados com o Euro, o Sporting receeu 10 milhões de euros, o Benfica 50 e o Porto 150 milhões de euros. Reparem bem nas diferenças. Por mim, isto é causa suficiente para desencadear uma "revolução verde". Estas diferenças nas ajudas recebidas pelos clubes explicam muita coisa.
A crise
Apesar das vendas, apesar dos gastos controlados, e com o contributo do forte investimento e das escandalosamente baixas ajudas do Estado (em comparação com os outros "grandes"), o endividamento do Sporting é de 300 milhões de euros. Leram bem, 300 milhões de euros. Isto numa altura em que já foram vendidos, por um prazo de 20 anos, a maioria dos lugares cativos do estádio de Alvalade (outra importante fonte de receitas). Como sair disto?
Soares Franco já fala em vender o edifício Visconde de Alvalade (onde se encontra a sede do Sporting) e o complexo comercial Alvaláxia. Mas, pergunto eu, não era exactamente isso que, no projecto Roquette, ia permitir que o novo estádio tivesse uma exploração lucrativa????
As soluções
Se um dos clubes portugueses que mais receitas gera está neste estado, não sei bem se há, de facto, solução para o futebol português. Soares Franco propõe que a arbitragem seja retirada da Liga e que seja criada a Taça da Liga. Parece-me bem.
Mas o problema essencial permanece lá. O proverbial ecletismo do Sporting já era. Os melhores jogadores formados no clube ou que nele acabam por dar nas vistas vão-se, muitas vezes a preço de saldos. O património, pelo vistos, vai começar a ser vendido. E a dívida não pára de aumentar.
Preocupante, muito preocupante. Apostar numa equipa competitiva, que dispute invariavelmente a Champions, é um investimento que permitirá, depois, maiores encaixes financeiros. Mas será suficiente para salvar o Sporting?
A grande questão
Se o Sporting está assim, após vários anos de gestão prudente e acertada, gastos controlados e várias receitas extraordinárias (venda das principais promessas e dos lugares cativos do novo estádio), imaginem como não estarão os outro clubes...
Benfiquistas e portistas, estão a assobiar para o lado? Fazem mal, fazem mal...

2 Comments:

Blogger manolo said...

Será uma ilusão haver futebol profissional de alta competição em Portugal? Equipas que disputam os títulos europeus e selecção que é das mais fortes? E tudo isto com estádios vazios (salvo os grandes)? Receitas da televisão, não chegam. Outras fontes de receita não são seguras. A indústria do futebol profissional levará uma grande volta, e o sentido da coisa é aquele que o Sporting começou a trilhar: formação para formar grandes equipas, rigor orçamental e despesas controladas e transparência de processos. Muitos iram à falência, como já começaram e também noutros países. E o Sporting continuará grande. Por mais 100 anos.

domingo, janeiro 15, 2006 12:41:00 da manhã  
Blogger Rantas said...

Eu julgo que o Sporting está certo em seguir uma política de contenção a todos os níveis.

É de facto estranho tentar imaginar a situação financeira dos clubes de futebol em Portugal.

Se o Sporting, que tem sido um modelo de gestão cuidadosa e criteriosa, está numa situação penosa, o que dizer dos outros?
Enfim, o FC Porto encheu os cofres como resultado da excelente passagem de Mourinho - mas tem esbanjado o dinheiro como se o Mundo acabasse amanhã.
O Benfica tem feito negócios que, apesar de se poderem tornar rentáveis do ponto de vista desportivo, não geram suficiente retorno financeiro, pelo menos aparentemente.
Caminham inconscientemente para a falência ou escapa-me alguma coisa?

domingo, janeiro 15, 2006 1:17:00 da manhã  

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