"Estaleca" de Campeão

Quando aos 80’, no aproveitamento de um erro, que foi fatal, de dois jogadores de Guimarães, Moutinho, sem perder um instante, entrega para a entrada de Liedson, que, após um ligeiro toque, fuzila autenticamente o guarda redes (aquele que foi Deus do estádio na Luz, na eliminação do Benfica na Taça) estava feito o resultado, a vitória decisiva, a oportunidade que não se podia falhar, para marcar presença no Jogo do Título, contra o FC Porto. Grau de dificuldade máximo, nesta recta final em que o Vitória joga a vida contra a fatalidade bem próxima da descida aos confins da 2ª Liga, e o Sporting o título de campeão, numa época a que, a certa altura, poucos poderiam acreditar. Ontem vi o Sporting de Paulo Bento em toda a sua marca: uma defesa coriácea, que não sofre golos à 7 jogos, e nem permite ocasiões de golo ao adversário; um meio campo que enche o espaço, obriga o adversário a cometer erros e lança ataques rápidos e um ataque, que mesmo sem muito tempo de posse de bola, é capaz sempre de criar situações de golo e vencer os jogos. Paulo Bento criou uma equipa temível, porque antipática, capaz de entregar o “domínio territorial” ao adversário defendendo a sua baliza com certo à vontade, mas simultaneamente, impondo uma pressão constante à defesa adversária que a incomoda, ficando a certeza que o golo vai surgir. Não existem “tremideiras”, nem indisciplina, todo o conjunto actua como um só corpo, enfim uma equipa cínica e eficaz. Em Guimarães a primeira parte foi intensa de competitividade, nem tanto de jogadas de ataque, com maior posse do Vitória, mas mais ataques do Sporting. Apenas uma oportunidade de golo, já aos 44’, numa boa jogada em que Liedson remata ao lado. Grande destaque para a afirmação do grande defesa que é Polga, ontem imbatível e cheio de classe. Cortes difíceis, domínio na sua zona, a sair com bola controlada e no chão, boas aberturas, e tudo isto com a ameaça do 5º amarelo que o impediria de estar presente contra o Porto. Nota máxima, para Polga que empolgou. Também Moutinho merece umas linhas; incansável, sempre presente no vai-vém, o miúdo alimenta o jogo de ataque, e não deixa o adversário respirar; é já, aos 19 anos um dos melhores médios portugueses. O Sporting tem que o manter nos próximos anos. Pela negativa, devo referir Deivid, que demora a convencer, pois que alia a uma natural lentidão, uma indecisão no passe que enerva: ontem em três situações de muito perigo, optou sempre mal e complicou jogadas que poderiam causar situações de golo. Ao intervalo 0-0, mantinha-se toda a expectativa e emoção para a 2ª parte. O Sporting cresceu e chegou a marcar por Liedson numa boa jogada, mas o golo foi anulado por fora-de-jogo que levantou muitas dúvidas. Cerca dos 60’ entra Koke por Deivid, que acrescentou mais-valia ao ataque. Rápido, a jogar simples, descaindo para a direita é um avançado que merece mais oportunidades. Quero vê-lo a titular contra o Porto. Num jogo sempre rasgadinho, com os minutos a passarem, fomos capazes de nunca perder o equilíbrio e a objectividade. Nesta altura o Guimarães apenas se preocupava em afastar a bola das imediações da sua área, já com Nani em campo (a substituição tradicional, saída de Carlos Martins, com um livre potente) e o golo adivinhava-se. Deveria ter sido mais cedo (penalty perdoado, quando Koke é rasteirado na área) mas finalmente surgiria a vitória, que premiou a melhor equipa, aquela que mais fez por isso. Ainda tivemos oportunidades para ver pequenos momentos mágicos de Nani, a oferecer mais um a Liedson que inacreditavelmente falhou e um espectacular remate dele próprio que poderia dar o 0-2. Magnifica vitória e estamos de facto, no jogo decisivo, fazendo uma fantástica 2ª volta e dependendo apenas de nós para conquistar o título de Campeão Nacional, o terceiro dos últimos seis anos! A equipa está de parabéns e todo o optimismo é perfeitamente legítimo. Venha o Porto. Força leões… rumo ao título!