Nem sonho nem fracasso
Após a jornada de hoje (vitórias do FC Porto e do Sporting, derrota caseira do Benfica), acredito que muito dificilmente haja alterações no topo da tabela classificativa. Se bem que a distância que nos separa do Benfica parece confortável (4 pontos), também o fosso pontual para o FC Porto me parece intransponível (os mesmos 4 pontos, que na realidade são 5).
É altura para se poder fazer um balanço da época sportinguista - conquista da Supertaça frente ao FC Porto, derrota na final da Taça da Liga com o Benfica, presença inédita nos oitavos da Champions (e derrotas copiosas com os colossos alemães...), eliminação por penalties perante o FC Porto na Taça de Portugal, 2º lugar na Liga Sagres.
Não tendo sido brilhante, a época foi indiscutivelmente positiva. De realçar o factor da formação, que tem permitido alinhar com cerca de 50% de titulares criados na Academia!
Podia ter sido melhor? Naturalmente que sim. Vejamos caso a caso, em cada competição.
Sobre a derrota na Taça da Liga, nem vale a pena falar muito. Já chegou a semana em que só se ouvia falar do Lucílio. Podia ter sido melhor, mas são as contingências do futebol. A equipa tem é de treinar melhor a marcação das grandes penalidades, porque ao contrário do que se disse e escreveu, o Lucílio não deu a vitória ao Benfica, "apenas" deu o empate. Os nossos jogadores desperdiçaram 3 penalties, e aí não foi por culpa alheia...
Quanto à Liga dos Campeões, o Sporting limitou-se praticamente a cumprir o serviço mínimo - vencer os ucranianos e os suiços foi suficiente para assegurar a primeira presença nos oitavos. Pelo meio, derrotas "gordas" com o Barcelona e, como despedida, uma dúzia de golos do Bayern. Este ano, o Sporting não permitiu grandes aventuras europeias - o que foi de facto estranho, até pela forma como se bateram num passado recente frente ao mesmo Bayern, em que disputaram os jogos de olhos nos olhos e a coisa não correu assim tão mal. A verdade é que o futebol assenta em momentos, lances decididos em fracções de segundo, e o resultado final não é a única forma de interpretar um jogo. Não vi os jogos com o Bayern, mas ouvi parte do relato da 1ª mão na rádio, quando ainda estava 0-0. O comentador dizia que os alemães vinham à espera de canja mas tinham encontrado caldo verde... independentemente da liberdade do estilo utilizado, significa que o Sporting não entrou atemorizado, antes pelo contrário. Mas enfim, nada explica os 12-1 da eliminatória. Como resumo da prestação europeia deste ano, podemos olhar para esses números ou, pelo contrário, saudar a 1ª presença nos oitavos e, não menos importante, os cerca de 13 milhões de euros arrecadados na campanha. Eu prefiro recordar esta última visão...
Na Taça de Portugal, outra vez a mesma conversa dos penalties...
Em relação à Liga Sagres, o incontornável 2º lugar. No quarto ano de Paulo Bento, o quarto 2º lugar. É frustante, de facto, mas temos de nos lembrar do óbvio - se ficamos em 2º é porque alguém fica em 1º, já diria La Palisse... e o que é certo é que o FC Porto tem estado imparável!
Depois da era Mourinho, em que ganhou tudo o que havia para ganhar (UEFA e Champions incluídas), um ano de transição, que resultou em disparates atrás de disparates. Em 2005-06 corrigiram o rumo e voltaram ao título, prevendo-se a conquista do tetra nesta época. O FC Porto, como voltou a demonstrar esta semana em Manchester, não é deste campeonato. E a justificação para este facto não reside nos quinhentinhos, nem na fruta nem nessas coisas. A justificação é simples, mas dolorosa para sportinguistas e benfiquistas - eles simplesmente têm sido melhores! Têm uma fabulosa política de contratações (quem conhecia Hulk no início da época?!) e uma não menos fabulosa política de vendas (Bosingwa, Pepe, etc.). Estes factores são indicadores robustos de como se trabalha bem no Dragão.
Para o ano, os desafios permanecem - tentar furar este ciclo de supremacia azul-e-branca, manter o Benfica à distância, assegurar uma boa receita nas competições europeias e manter a aposta na formação. Como sinais de preocupação, vejo a instabilidade directiva, que nos poderá custar o treinador. Sobre Paulo Bento: Acreditei quando lhe chamaram o "Ferguson do Sporting", terei muita pena se ele não continuar à frente do projecto. A equipa nem sempre encanta, é verdade, mas no futebol de alta competição joga-se para ganhar, não para encantar. E é esse pragmatismo que me encanta no treinador do Sporting... e a verdade é que já conquistou 4 títulos (2 Taças de Portugal, 2 Supertaças).
Uma última referência para os rivais da 2ª circular - façamos um balanço semelhante: Vitória na final da Taça da Liga com o Sporting (único título nos últimos 4 anos...), último lugar desprestigiante no grupo de qualificação da Taça UEFA (e derrota copiosa com uns gregos...), eliminação perante o Leixões na Taça de Portugal, 3º lugar na Liga Sagres.
O ano I da era Rui Costa dificilmente poderia ter corrido pior. É verdade que no ano passado ficaram em 4º, agora estão em 3º. Parafraseando o treinador do Benfica, poder-se-ia até acrescentar que perder em casa com a Académica por 0-1 nem foi mau de todo, porque no ano passado perderam por 0-3...
Nem se pode dizer que este ano não se investiu na equipa. Ao contrário do Sporting, cujas contratações foram no mercado do "custo zero" (Rochemback, Caneira e Postiga), para o Benfica foram feitas aquisições de luxo - Aimar, Suazo, Reyes, Sidney, Balboa, Carlos Martins, etc. Uns não passaram de flops, quanto aos outros sente-se que Flores não os consegue fazer render. Para o ano, nova enxurrada de estrelas para a banda da Luz, novo ciclo apregoado a todos os pulmões, enfim, a história que se repete época após época. O D. Sebastião está disponível, depois de ter sido despedido no México... e Scolari também anda por aí...