sábado, fevereiro 27, 2010

Finalmente


Confesso, fiquei surpreendido. Durante tanto tempo, desde a pré-temporada, tanto tempo, sempre à espera do próximo jogo, da viragem, do início das boas exibições que nunca chegavam, deixei, convictamente de acreditar na equipa do Sporting deste ano. E quando, consciente e inconscientemente, me preparava para ver mais um fracasso, viver angustiosamente mais do mesmo mau futebol das minhas cores, com a consequente e certa derrota (após sete em linha sem ganhar), a surpresa do inesperado, aconteceu.

Vitória gorda, exibição, que, a principio desconfiadamente, no final, evidente, nos encheu daquela já esquecida emoção de ver bom futebol made in Alvalade; foi certamente uma prenda surpresa que o Sporting nos ofereceu. E em jogo importante contra o Everton que tem conseguido ultimamente grandes resultados na Premier inglesa.

Alegria, motivação e confiança jorraram como nunca este ano, dos jogadores leoninos. A táctica foi diferente e talvez só esse facto (a mudança) tenha tido papel de relevo. Um dos velhos dilemas (ou dois avançados ou dois médios-pivot e apenas um avançado) foi ontem resolvido com a dupla Veloso – Pedro Mendes a formarem a estrutura e o Liedson sozinho na frente. Mas entre estas “linhas”, houve uma dinâmica quase esquecida de 3 médios ofensivos: os motores Moutinho e Izmailov e a flecha Yannick, que se fartaram de criar jogadas de ataque e simplesmente dominaram o Everton.

Mas o que mais me impressionou, foi o não desistir nunca, mesmo não marcando na 1ª parte (que merecia), finalmente senti os jogadores a acreditar que eram superiores como equipa, que eram capazes de ganhar, e mesmo após o golo de Veloso, não se satisfez e quis sempre chegar ao 2º golo e à decisão da eliminatória.

Veloso já era lateral esquerdo, quando fez 1-0, pois Carvalhal, e bem, tinha já alterado o sistema para 2 avançados (tendo Saleiro feito a assistência) ficando Pedro Mendes sozinho a ancorar a equipa. E seria ele a fazer 2-0. É um reforço importante para o presente, com a sua experiência aos 30 anos. Os últimos minutos foram de algum sufoco, com o tudo por tudo dos ingleses (que tinham por certa a passagem aos oitavos), mas a sorte protegeu-nos pois nas substituições de queimar tempo, Matias ainda fez o 3-0 final. Belo resultado, aliado à notícia que Izmailov fica (que alívio) e que o "ministro" Costinha, sportinguista de gema, sabido e batido no mundo do futebol é o novo director de futebol, foram as cerejasno topo do bolo.

O orgulho de leão bateu-me como uma bofetada e o Sporting rejuvenescido finalmente apareceu. No domingo gostaria de ver repetidas estas emoções contra o Porto. Não querendo valorizar de mais (pois já me chegam as desilusões deste ano) a verdade é que tenho uma esperança, quase certeza, que vamos ganhar. Mesmo que para eles o jogo seja absolutamente decisivo, ao contrário, infelizmente, do que acontece connosco. A sensação que fica é de desperdício, época perdida. A não ser que… Que venha o Atlético de Madrid!

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Renovar a esperança

Sou sportinguista sofredor. Sofri, durante dezoito anos, com a ausência de títulos da minha equipa e, durante todos esses anos, fui recordando várias vezes, como em sonho, o Sporting mágico de Manuel Fernandes e Jordão, que contribuiu para que tivesse uma infância ainda mais feliz. Foram dezoito anos de esperança, renovada a cada nova época. Acreditei sempre. Até que voltámos aos títulos. Primeiro, pela mão de Inácio, depois pela de Boloni. E voltei a rugir a minha alegria de ser leão.
Hoje, o jejum é, de novo, longo. Mas o pior é que, nos últimos anos, essa minha esperança sempre renovada tem sido posta à prova. Primeiro, as discussões financeiras tomaram conta do meu clube. Parecia mais importante um sportinguista saber qual o valor do passivo ou o que era “projecto financeiro” do que falar, sentir e respirar futebol e a emoção das vitórias.
Ainda assim, e por muito que hoje se insista em criticar, a verdade é que, já nesse período, Peseiro fez todos os sportinguistas sonharem de novo. Sonhámos, em conjunto, com o título de campeão e com a conquista da Taça UEFA. É verdade que tudo se esfumou, menos o facto de que essa equipa, a de Peseiro, jogava com alegria e dava espectáculo.
Depois, veio Paulo Bento. E, em termos futebolísticos, parece que a tristeza tomou conta dos jogadores do meu clube e, através deles, contagiou-se a toda a família sportinguista. Admito que, com Paulo Bento, havia Esforço, Dedicação e Devoção…
E sim, ganhámos umas taças, sim, ficámos quatro vezes em segundo, sim, fomos à Champions, mas… do Sporting esperamos sempre mais do que “meias-glórias”. Queremos a Glória inteira, aquela que completa o nosso lema.
No futebol jogado, passámos a uma coisa cinzenta, triste, apagada, a antítese do espectáculo com que todos vibramos. A verdade é esta: desde que Paulo Bento tomou conta do Sporting, e salvo uma ou outra excepção, tornou-se aborrecido ver o Sporting jogar. Paulo Bento concentrou-se nos resultados e esqueceu-se da alegria e do espectáculo que o futebol também deve ser.
Hoje, já sem Paulo Bento, estamos ainda mais tristes e todos ralham. Na realidade, está instalada no clube uma conversa de surdos. Os mais acalorados clamam por revoluções, manifestações, limpezas e vassouradas. Atacam tudo e todos, dos dirigentes aos jogadores, passando pela equipa técnica. Os dirigentes atacam os adeptos. Os jogadores, esses, são talvez os únicos que atacam pouco (sim, há alguma ironia nisto) …
No Sporting, parece que chegámos ao ponto em que cada um é dono da verdade única e dela não abdica. Está instalada a emotividade, que nunca foi boa conselheira. Para que o Sporting consiga ultrapassar a crise, é bom que aprendamos de novo a falar entre nós, o que também implica saber ouvir. Não há nenhum dono da verdade. Ela não está na posse exclusiva dos dirigentes, dos técnicos, dos jogadores, das claques ou dos sócios e adeptos, mais ou menos anónimos.


Vamos a factos:
Não há Sporting sem dirigentes. Não há Sporting sem atletas e técnicos. Sobretudo, não há Sporting sem sportinguistas. E não há futebol português sem Sporting. Estas são, para mim, as únicas verdades incontestáveis.
Quanto aos dirigentes, admitamos até o pior cenário, pintado por alguns: fazem tudo, mas mesmo tudo mal! (esclareço que, admitindo que têm sido cometidos vários erros, alguns deles graves, não concordo com este ponto de vista).
A questão é: qual a alternativa credível? Quem se propõe fazer uma mudança radical da situação, para engrandecimento exclusivo – é esse o único ponto que me importa – do Sporting Clube de Portugal?
Quais os projectos alternativos, com um mínimo de credibilidade, que se apresentaram nos últimos anos aos sócios? – A resposta, creio que praticamente consensual, é: nenhum, nada, zero!
Quanto aos atletas e técnicos, tem existido um sub-investimento naquilo que é a base competitiva de um clube que se quer grande, o seu plantel. Hoje, o Sporting tem poucos jogadores de qualidade inegável – Liedson à cabeça, Moutinho, Carriço e Izmailov esgotam, na minha opinião, a lista.
Há grandes promessas que têm ainda muitas provas a dar: Rui Patrício, Saleiro, Adrien, João Pereira, Miguel Veloso, Matias Fernandez…
Há jogadores que são esforçados mas que, neste momento, não passam da mediania e aparentam estar na fase descendente da carreira: Caneira, Polga, Tonel, Abel …
Há, também, algumas incógnitas: Pedro Mendes e Pongolle, porque só agora chegaram, têm direito a todo o benefício da dúvida e Vukcevic, que começou por entusiasmar, parece neste momento um corpo estranho à equipa.
E há, sobretudo, uma maioria de jogadores que não têm futebol suficiente para jogar de leão ao peito.
Pois é, o que não há mesmo é milagres.
Enquanto os adeptos continuarem a atacar os dirigentes e a assobiar alguns dos nossos melhores jogadores, enquanto os dirigentes forem incapazes de tirar o Sporting desde marasmo desesperante e insistirem numa postura relativamente autista de “donos da verdade”, enquanto os jogadores se afundarem em crises de confiança para as quais eles próprios contribuem, o Sporting não vai sair da crise.
Os dirigentes são estes, os sportinguistas são estes, é este o nosso Sporting. Só se soubermos falar uns com os outros, em vez de tentar falar mais alto do que os outros, vamos encontrar soluções e renovar a nossa esperança.

sábado, fevereiro 20, 2010

Treinador, escolha decisiva


Falar do Sporting é hoje angustiante. Não me lembro de temporada mais horrível. De resultados medíocres e exibições paupérrimas no tempo do Paulo Bento, sobrou toda a descrença, falta de confiança e medo de perder todo e qualquer jogo.

Que pesado castigo, ver a equipa de futebol a não ser uma equipa, o conjunto a não jogar, como se caminhasse para o sacrifício, humilhados e ofendidos. Que raio de crime, e quem é o culpado é o que se discute nas tertúlias leoninas.

Que não temos uma grande equipa, com jogadores de topo já acontece há vários (muitos) anos. Mas que raio, olhando para a última década, tivemos sempre uma equipa que disputava cada jogo, cada Taça, cada Campeonato e, houve mesmo uma temporada que jogava futebol de encantar (2005, Peseiro). E não tínhamos melhores jogadores que hoje.

Tudo se conjugava para fazermos uma grande temporada, pensamos todos. Só que a realidade não ligou nenhuma a uma continuidade baseada num rígido esquema, numa repetição daquilo que se vira fortalecer nas épocas anteriores. Faltou inovação, um click de que não bastava fazer o mesmo; e o erro foi não verificar a tempo a saturação, de treinador e jogadores, métodos e discursos, tácticas e soluções. Este terá sido o “crime”

Deste ano “horribilus” já nada se espera, excepto o esforço dos jogadores, que na sua maioria são bons jogadores, mas não conseguiram vencer o bloqueio (do foro, sobretudo psicológico) que foi em crescendo, tornando a equipa de futebol um conjunto apático que entra em campo já aflito e raramente consegue 3 passes consecutivos.

Naturalmente que o estímulo para escrever sobre futebol e o Sporting é proporcional a este tísico estado de alma. O mais importante é escolher o novo treinador. O desafio é pôr alguns destes (e outros) jogadores a funcionar como equipa. Como dizia, deveria ser um que conciliasse o perfume futebolístico (remates e golos) do Peseiro com o rigor e segurança do Bento; sobretudo tem que ter ascendente sobre os jogadores, com carisma que estes respeitem. E naturalmente ambição máxima para ganhar o máximo.

Quem? O Manuel José (que tinha pensado quando Bento saiu e antes de entrar Carvalhal, e se falava no Villas-Boas), pode ser uma possibilidade. Estrangeiro também podia ser uma vantagem. Co Adrianse, Bolloni? Mas também o Villas-Boas (uma aposta mais arriscada) eu via com simpatia. Independentemente de quem seja, é certamente a decisão mais importante, crítica mesmo, que Bettencourt terá que tomar brevemente.