segunda-feira, janeiro 16, 2006

Papel dos media no "mau" público de futebol


Acho o público que assiste aos jogos de futebol um dos factores que mais nos distingue, negativamente relativamente aos Campeonatos no estrangeiro. Falta de respeito pelo adversário, pelo árbitro, e mesmo pelo próprio clube quando as coisas correm mal. O adepto português está normalmente zangado, contra tudo e contra todos, numa palavra parece não apreciar o jogo. Mas esta situação não tem que ser sempre assim e durante o Euro 2004 viveu-se algo de novo. Evidentemente cabem responsabilidades acrescidas aos dirigentes e também a treinadores e jogadores, mas sobretudo, e é de isso que quero falar, aos media desportivos de Portugal.
Eu que sou leitor de “A Bola” por tradição, (à mais de 35 anos que a leio, e era gozado por colegas de escola “então, já estudaste A Bola toda?), que me habituei a opiniões sérias, rigorosas e isentas, considero que actualmente, embora ainda se encontrem bons pedaços de prosa, o jornal, que era “A Bíblia” do futebol português puxa de forma descarada pelo Benfica. As primeiras páginas, tantas vezes de tão ridículas, (Simão muda de penteado, ou coisa que o valha) até nem ligo. Parece que é assim que os encarnados gostam. Mas a crónica de um jogo, se tem alguma importância deve reflectir a forma como as equipas o disputaram, como o conseguiram fazer, os erros do treinador, e dos jogadores, a influência das jogadas decisivas, a consistência defensiva, etc, e cabe ao jornalista sublinhar e sumarizar a ideia que fica do jogo que foi. Sem dramatismos nem menosprezo pelas equipas. Fazer passar a mensagem que o futebol é um jogo e como tal as contingências, o azar e a sorte também fazem parte, e o resultado final, que é, como dizer o juízo final, não nos diz tudo sobre o desafio.
Vem tudo isto a propósito do Benfica-Académica (3-0). Assisti, e sofri pela Briosa, que nunca foi inferior ao Benfica. Começando a perder com um penalty fortuito aos 4 minutos, soube ter o discernimento de fazer o seu jogo, obrigando o Benfica a fazer um jogo “bocejante”, e a espaços a aparecer com perigo na baliza de Moretto, que evitou dois golos e se tornou o melhor jogador do Benfica na 1ª parte. A Académica, não se intimidou, procurou deliberadamente o empate, no um-para-um teve lances formidáveis, o árbitro não vê um penalty claro, e em resumo pelo jogo que fez, dignificou o passado desta equipa cuja última vitória na Luz tinha acontecido à 50 anos. Sem fazer quase nada por isso (à parte a importante organização defensiva) o Benfica chegou ao 2º golo aos 80 min num canto, em que a bola parece perdida (terá saído pela linha de fundo?). Tremendo golpe para a Briosa, que ainda sofreria o 3º, aos 94 min, agora num golo de bola corrida. O resultado 3-0 não espelha aquilo que se passou no jogo. Há que aceitar que a chamada “estrelinha” está a proteger o Benfica. A equipa de Coimbra mostrou-se revoltada a quente, penso que sobretudo porque não merecia perder quanto mais por este resultado. “…mas nós é que fomos a melhor equipa em campo.”; “Fomos valentes e corajosos e saímos daqui com grande indignação e raiva”; …temos direito a lutar de igual para igual, e isso não nos foi permitido. Só queríamos justiça.”; “Saímos daqui com um grande sentimento de revolta porque o Benfica não mereceu vencer…”.
A crónica de “A Bola”, assinado por Carlos Vara está precisamente na linha que influencia o público de futebol de modo extremamente negativo. Sem mencionar por uma única vez o jogo da Académica (uma equipa que luta pela permanência e vai jogar de igual para igual a casa do campeão, deve ser enaltecido, penso que isto é indiscutível para quem gosta de futebol), justifica o resultado com uma argumentação tão rebuscada, que merece entrar no anedotário futebolístico nacional. Se não vejamos, em título “…águia mecanizada nada acontece por acaso”, “qualidade de jogo não é primorosa, mas continua a ser poderosíssimo”!!!. Depois a estratégia, “o seu jogo fica assinalado por um hábil ardil: quando dá ideia de vacilar, está tão somente a iludir o adversário com um jogo que remete para tremendo esforço, mas que na verdade se baseia na espera com paciência pelo momento certo”; “Face a este jogo de espera tão peculiar, o Benfica assinou uma primeira parte numa linha de ousadia menor, com os principais momentos de emoção a acontecerem na área encarnada”. Senhor Carlos Vara, ousadia menor tem você! Mas continua: “ Benfica jogava claramente na expectativa, fomentando no adversário a tal ilusória sensação de que podia discutir o jogo e talvez vencê-lo. É um facto que Filipe Teixeira voltou a deixar a sensação de que a Académica podia chegar ao empate”. Tantas sensações e que imaginação, mas sobretudo que falta de profissionalismo no tratamento da Académica! No final “chegaria em cavalgada de esforço ao 2-0, e por fim a um tranquilizador mas talvez excessivo 3-0 para a Académica…” E este repórter consagrado (?!) termina a sua brilhante crónica com esta sentença: “[equipa do Benfica] não atinja na plenitude transparente e distinta qualidade de jogo”.
Fiquei de boca aberta de pasmo! Estarão a gozar connosco?
Presto daqui a minha homenagem a Nelo Vingada, e a minha esperança que a Académica se mantenha no Campeonato maior de Portugal. Força Briosa.
A indignação da Académica está em :

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4 Comments:

Blogger El Ranys said...

A Bola é, cada vez mais, um pasquim em tons encarnados, escrito por burros desmiolados, facciosos e sem vergonha. No fundo, o que eles fazem é envergonhar a memória do grande jornal que já morou na travessa da queimada.

segunda-feira, janeiro 16, 2006 7:35:00 da tarde  
Blogger Dever Devamos said...

Manolo, a Bola é o jornal mais tendencioso que existe. Nem o DN é tão "PSD" como a Bola é benfiquista.
Não é toa que perderam a liderança para o Record, esse sim um jornal "relativamente" isento. Mesmo o Jogo é de longe melhor que a Bola.

segunda-feira, janeiro 16, 2006 9:28:00 da tarde  
Blogger Alex said...

É um bom post, embora discorde em absoluto da ideia que quer transmitir.
- A Bola é o jornal desportivo de referência em Portugal e no Mundo. Cada um lê o que quer, para mim as noticias que existem no desporto (e no futebol em particular ) são as d' A Bola. Se estamos a falar das primeiras páginas (que também não entendo, muitas vezes, o critério), não se fale só da Bola. O Record, o Jogo, que proimeiras páginas pôem ? É quase sempre o Benfica ! Aliás convido-te, Manolo a colocar em post, todos os dias as primeiras páginas dos 3 jornais diários a ver se tiramos conclusões. A Bola tem (julgo que os outros não têm) comentadores dos vários clubes onde expressam as suas opiniões : Miguel Sousa Tavares e Olimpio Bento do FCP, José António LIma e Daniel Reis do SCP e Leonor Pinhão e Fernando Seara do SLB. Quer dizer, naquele jornal tem todos direito à opinião clubistica. Em relação às crónicas ... quantas vezes eu sinto que a Bola é tão injusta com o Benfica...
Quanto ao jogo. O Benfica foi sempre mais forte em todos os dominios do jogo. Sem fazer uma boa exibição foi seguro, consistente, dominador, sem dar chance à Académica. Depois viu-se a ganhar aos 4 minutos (penalty, duvidoso, na minha opinião). A Académica muito bem organizada, preencheu muito bem o seu espaço defensivo. O Benfica, apesar de os seus avançados se movimentarem constantemente, não conseguiu furar a muralha da Briosa. Mas teve posse completa de bola. Mas é verdade que a Académica teve duas grandes oportunidades de empatar. Uma no chapéu de R. Brum a que correspondeu Moretto com uma defesa do outro mundo e outra que mais uma vez o novo titular da baliza negou. Mas não esquecer uma grande oportunidade de N. Gomes completamente isolado (por Beto) que não fez o golo pois adiantou um tudo nada a bola. De resto o Benfica fez circular a bola, mas com Simão em baixo,Robert completamente desaparecido do jogo e, com a Académica a fechar todos os caminhos, defendendo atrás do meio campo, foi um jogo sem grandes emoções.
Na segunda parte a toada não mudou muito. Apenas a vinte minutos do fim a Académica subiu em busca do empate, e recordo-me de um grande remate de bicicleta para mais uma grande defesa de Moretto. Mas foi quando entrou Geovanni e Manduca (e aproveitando a subida da Académica ) que o Benfica teve várias chances de fazer o 2º golo. Aliás, no lance do 2º golo, há uma primeira jogada que o Manduca com a baliza à mercê, vê tirarem-lhe o pão da boca. No respectivo canto N. Gomes de cabeça quase marca golo, fazendo P. Roma uma grande defesa e no canto seguinte, finalmente o golo da tranquilidade.
O terceiro surje já com a Académica sem a estrutura montada...
A arbitragem. Na minha opinião foi uma arbitragem fraca mas sem influência no resultado. No penalty existe mão na área. Na minha opinião não é intencional, mas segundo os entendidos é penalty sem sombra de dúvida. O pretenso penalty de Luisão. Na minha opinião não é penalty. Àquela distância, com aquela força algum árbitro podia marcar penalty ? Quanto ao 2º golo, a bola não saíu, eu vi, mas parece que quando o R. Rocha dá de cabeça o N. Gomes está fora de jogo. Enfim é uma arbitragem fraquinha mas não se compreende tanta indignação !! No Dragão o FCP marcou um golo que não entrou e o presidente da Académica não se manifestou ...
O que, para mim é dificil de entender é este anti-benfiquismo de tanta gente... O MST há semanas disse que o Benfica ganhou ao Setúbal porque o José Fonte não estava a jogar pois ía para o Benfica e fez falta na jogada do golo... Hoje diz que o Benfica seduziu o Marcel e por isso ele não jogou e portanto... Mas revoltou-se quando o FCP foi criticado por não ter deixado jogar o Maciel... E, da mesma forma, se podia pensar na coincidência de o Bruno Vale se lesionar aos 94 minutos do jogo anterior ao jogo do FCP.
Infelizmente estou cada vez mais convencido de que há dois grandes clubes em Portugal : o Benfica e os Anti-Benfica...
Saúdinha

terça-feira, janeiro 17, 2006 9:06:00 da tarde  
Blogger manolo said...

A crónica do jogo Benfica-Académica, assinada por Carlos Vara em "A Bola" é completamente sem sentido, e tenta rebuscadamente argumentar a superioridade do Benfica (o penalty aos 4 min já estava previamente planeado?) e sobretudo fere a dignidade da Académica (um clube que exige respeito) ignorando-a completamente. Relativamente ao jornal, posso referir a crónica do ano passado Benfica-Sporting 1-0, com a qual concordei a 100%. Nesta última semana, o director Vitor Serpa afirma em artigo de opinião, que reconhece a diferente atitude e comportamento entre os responsáveis dos três grandes. "É de facto diferente o trato e o tacto nas gentes do Sporting". E, depois de afirmar que já há muito se sentia tentado a afirmar esta constatação de anos, conclui: "...é cada vez mais claro que a necessária transformação do futebol português, depende, da consistência cultural e social dos cidadãos que ocupam lugares de responsabilidade em clubes..."; com o título que dá ao artigo, "Todos iguais, todos diferentes" a minha interpretação é clara: os dirigentes do Benfica e do Porto são, ao contrário dos do Sporting, um obstáculo à mudança necessária e vital para a credibilização do futebol em Portugal. E isto é a opinião de um senhor do jornalismo desportivo.

quarta-feira, janeiro 18, 2006 7:50:00 da tarde  

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