Sporting eleitoral

O Sporting vai a votos na sexta-feira para eleger os corpos sociais que vão gerir o clube nos próximos 3 anos. Finalmente, a democracia. Finalmente, um dirigente directamente eleito pelos sócios, em vez de cooptado. Finalmente, o debate interno, surgindo uma lista a discutir com o "consenso" que tem governado o clube nos últimos dez anos. Desde logo, nota positiva para esse facto. E, a reboque desta nota positiva, primeira nota negativa para Filipe Soares Franco. Fazendo-se a vontade - ou cedendo-se à chantagem - do ainda presidente em exercício, a Assembleia Geral teria aprovado a venda de património e o debate seria agora infinitamente mais pobre. Mal andou FSF na condução de todo este processo.

Os candidatos

A candidatura de Guilherme Lemos ainda não entrou nas minhas cogitações e creio que nunca irá entrar. Não me parece à altura do Sporting nem suficientemente credível. Assim, para mim, só existem dois candidatos: Filipe Soares Franco (FSF) e Sérgio Abrantes Mendes (SAM).

Estamos em período eleitoral e a debater, portanto, os projectos de futuro para o clube. Mas não consigo afastar do raciocínio o passado.

Em relação ao passado, gostava que, no pouco tempo que ainda sobra de campanha, alguém tentasse explicar algumas questões que não deixam de me atormentar. Por exemplo:

- Como foi possível chegar aos 277 milhões de euros de passivo?

- Como foi possível que, mesmo com as vendas de Simão, Duscher, Hugo Viana, Quaresma, Cristiano Ronaldo e Enakharire, que juntos (e só eles) renderam aos cofres do clube mais de 60 milhões de euros nos últimos 6 anos, não se tenha amortizado nada à dívida de construção do novo estádio?

- Como é possível que os processos de venda dos terrenos do antigo estádio e adjacentes estejam tão mal explicados e ainda haja avultadas verbas (creio que cerca de 45 milhões de euros) a receber da MDC, condicionadas à aprovação pela CM de Lisboa da urbanização prevista?

- Como é possível ter descido dos 80 para os 40 mil sócios sem que nada se fizesse para contrariar essa terrível tendência?

- Como foi possível dizerem aos sócios, durante quase dez anos, que a gestão era exemplar e que tudo estava bem quando, afinal, a situação parece ser calamitosa? Alguém se sente enganado? Eu sinto.

Bom, mas isto são questões relativas ao passado que acho que vou continuar sem ver respondidas por alguém...

Responsabilidades

Mas estas questões prendem-se também com as actuais eleições. Porque numa das listas, a de Soares Franco, a quase totalidade dos elementos esteve ligada aos últimos 10 anos de gestão do clube. Sejamos claros: FSF não chegou agora ao Sporting. Pessoas que gozam de grande consideração no universo sportinguista, como Ribeiro Telles ou José Eduardo Bettencourt, estão também umbilicalmente ligados ao famigerado "Projecto Roquette". Querem eles ser simpáticos o suficiente para nos explicar o que aconteceu, o que falhou? Há, ou não, má gestão? Dias da Cunha foi um mau gestor? Estas questões devem ser explicadas aos sportinguistas. E, por favor, não nos venham cá com a história da "bolha" dos conteúdos na internet ou com as taxas de juro. O que aconteceu à tal "bolha" já era previsível. Os juros são, hoje, metade do que eram à dez anos.

Ainda assim, devo dizer que, relativamente a Ribeiro Telles ou José Eduardo Bettencourt, também eu, apesar de não os isentar de críticas, tenho boa opinião. Creio até que qualquer um deles, sobretudo o primeiro, é mais fiável do que o próprio Soares Franco.

O futuro

Ou o que realmente importa (não ignorando que, sem se conhecer suficientemente o passado, o futuro repetirá os mesmos erros). Infelizmente, a voz dissonante do "consenso", Sérgio Abrantes Mendes, ainda não conseguiu apresentar qualquer alternativa à venda do património minimamente credível. Com ele estão ilustres nomes sportinguistas, por quem nutro elevada estima: Jordão e Manuel Fernandes (só falta o Manoel), que tantas e tantas alegrias me deram e que são os principais responsáveis por, ainda menino, me ter apaixonado pelo Sporting e por este jogo, o futebol; Pedro Gomes, José Couceiro, Oceano, Maria José Valério...

Mas isso não chega. É necessário um projecto alternativo. Reuniões com bancos, cujo conteúdo é anunciado e logo desmentido, 20 milhões de euros que vêm não se sabe de onde, intenções vagas, é tudo material insuficiente. Das duas uma: ou SAM não está a conseguir fazer passar a mensagem, ou a mensagem tem mesmo pouco conteúdo.

Parece, assim, que a única alternativa, aquela que melhor servirá o Sporting, é a encabeçada por FSF. Infelizmente. Pessoalmente, não gosto da sua arrogância, da sua tendência para falar como um iluminado que faz o favor de discutir com um bando de indigentes mentais, os sócios do Sporting. Mais: acho que a estratégia de chantagem seguida por FSF foi canalha, a explicação para a derrapagem nas contas do Sporting tem sido muito pobre, a pressa em obter a aprovação para a venda de património nunca foi satisfatoriamente explicada, a paródia da "palavra dada" foi uma patetice desastrada, os elogios ao Benfica são sempre indesculpáveis na boca de um presidente do Sporting e... não simpatizo, nem um bocadinho, com a figura, o estilo e o discurso de Filipe Soares Franco. Ainda assim, para bem do Sporting, a minha tendência de voto inclina-se, em cerca de 85 por cento, para ele. Com muita azia. Que o seu projecto triunfe. Viva o Sporting.