Sporting e o futuro
O mote foi-me hoje dado no Record pelo jornalista João Almeida Moreira, editor das páginas Sporting (texto sem link disponível). Faço eco da ideia e desenvolvo, indo aliás ao encontro do que já escrevi aqui no RdJ e à minha intervenção numa recente assembleia geral do clube: em nome do património, da construção do novo complexo Alvalade XXI e da Academia, o Sporting vendeu, nos últimos anos, os seus melhores jogadores. A saber, Boa-Morte, Simão, Duscher, Hugo Viana, Quaresma, Cristiano Ronaldo, Enakarire, entre muitos outros...
O que temos hoje? - O clube desfaz-se do seu património (o tal em nome do qual vendeu os melhores jogadores) e passa a pagar rendas pela sede que ocupa e pela utilização da secretaria de sócios, trocando a condição de proprietário pela de inquilino.Todos os módulos não-desportivos do Alvalade XXI vão em breve ser alienados, alienando-se também, com essa operação, as rendas a haver. Terrenos circundantes ao estádio não há, foram todos vendidos.
Alguns dos jogadores que vendemos brilham agora nos rivais, ajudando-os a conquistar títulos: Quaresma no Porto, Simão no Benfica. Soares Franco, entretanto, já anunciou a quem o quis ouvir: quer passar a propriedade da Academia Sporting do clube para a SAD. Temo o pior com esta operação.
Resultados desportivos? - Temos estado em todas as frentes mas, nos últimos anos, conquistar titulos e acrescentar palmarés é que nada. A "grande" contratação anunciada para o defeso é, até mais ver, Bruno Pereirinha.
Não encontro grandes alternativas ao caminho seguido e, no entanto...
A verdade é que o Sporting está cada vez mais pobre. O plantel é curto e alimentado com fornadas de jovens promessas, das quais só poucas se confirmam. Da actual equipa, como contratações de "vulto" dos últimos anos, só há a destacar Ricardo, Polga e Liedson. O resto veio tudo a preço de saldo, na expectativa de relançar carreiras.
Acertaram com Tonel. Abel e Alecsandro ainda merecem o benefício da dúvida.
Pinilla, João Alves, Bueno, Paredes, Romagnoli, Wender, Luís Loureiro, Douala, Farnerud, Luís Filipe, Tinga, a procissão de jogadores contratados nos últimos anos e que redundaram em actos falhados é grande. Caneira é emprestado. Rochemback também o foi.
Não fossem os jovens, com Moutinho à cabeça, fornecidos ao longo dos anos à equipa principal pela formação (e isso é anterior ao "projecto Roquette") e esta equipa era uma desgraça. Como bons negócios a merecer algum destaque, por se revelarem amplamente lucrativos para o clube, aparecem apenas Enakarire e os jovens produtos da "cantera".
Quanto à "gestão de activos", estamos falados. Na minha opinião, tendo em vista o futuro do clube, não se pode falhar tanto.
Imagine-se este Sporting: Ricardo; Rogério à direita, centro da defesa com Enakarire e Polga, Caneira à esquerda. Meio campo com Rochemback, Moutinho, Simão à direita, Quaresma à esquerda, Cristiano Ronaldo no apoio ao ponta de lança, Liedson. No banco, Rui Patrício, Tonel, Hugo Viana, Duscher, Miguel Veloso, Nani e Rui Fonte (jovem ponta de lança promissor que já deixaram fugir da formação para o Arsenal). Imaginem mesmo. Seria possível e realista?
Talvez, se não tivéssemos embarcado na aventura do "património". Que já não é nosso, assim como assim. Penso que esta equipa teria assegurado diversos títulos nacionais, taças de Portugal e excelentes participações, não interpoladas, na Champions. Com isso, teriamos conseguido o dinheiro para começar a reduzir o passivo e, quem sabe, reforçar ainda mais a equipa com dois laterais de eleição.
Entendo que o caminho do rigor e da contenção financeira é o mais acertado. O futebol é uma indústria de milhões e todo o cuidado e precaução serão avisados. O Sporting, no entanto, descobriu uma receita que ainda não deu os frutos desejados: vendeu jogadores para construir património, vende agora património para reduzir a dívida. Qualquer dia, não temos dívidas, mas também não temos jogadores nem património. E os sportinguistas, o maior activo do clube, não se vendem. O que acontecerá daqui a cinco anos, se continuarmos sem ganhar nada e nada mais houver para vender?
9 Comments:
mudam-se para o benfica. ;)
O verde è esperança.Amigo Nelson não se iluda,o seu clube està na mesma ou pior.
Essa de assobiar para o lado jà foi chão que deu uvas.Haja dignidade.
Após profunda reflexão, é fácil concluir que:
1. em Portugal não há mercado (leia-se de consumidores de futebol, nem de televisão, nem de publicidade)para competir com Inglaterra, Espanha, Itália, nem sequer com Rússia, etc. Os grandes jogadores mais tarde ou mais cedo irão emigrar para quem lhes pode pagar 10 a 20 vezes mais; não é uma questão de competência.
2. Em face do anterior, foi feita uma opção/decisão: apostar na formação de modo ao Sporting ser "o Ajax" de Portugal; foi necessário construir a Academia, tal como aliás o novo Estádio (antes da organização do Europeu ter sido entregue a Portugal); para este objectivo (imperativo e inadiável) o Sporting teve que recorrer, naturalmente à banca. Hoje o Sporting está a pagar esse crédito, com planos baseados em orçamentos que são para cumprir rigorosamente. O objectivo, a 1 ano de prazo é reduzir substancialmente a dívida, para nos libertarmos dos elevados juros.
3. A estrutura dirigente do Sporting, com Soares Franco, e Ribeiro Telles a comandar Carlos Freitas e Pedro Barbosa no futebol oferece-me confiança e garantias de que são homens bem identificados com os objectivos do Clube (formação e contenção/rigor)e altamente competentes nas suas funções.
A insatisfação de ganhar quase nada, tanto a nível nacional como ao nivel internacional não nos pode tapar a visão: antes de Roquette?... O declinio das modalidades amadoras poderia / deveria ser evitado? Qual é afinal a mágoa? Que Sporting para o futuro? Eu desejo que seja o culminar do caminho traçado: um Sporting com uma equipa de futebol baseada na sua cantera, altamente competitiva, na disputa dos grandes títulos e presente regularmente na Liga dos Champions, sempre de cara lavada nos "casos sujos" do futebol português, economicamente e financeiramente saudável (últimos 6 semestres a SAD deu lucro), que continue a ser o exemplo que tem sido.
"O plantel é curto e alimentado com fornadas de jovens promessas, das quais só poucas se confirmam"
"a procissão de jogadores contratados nos últimos anos e que redundaram em actos falhados é grande"
Penso que estas tuas críticas têm alguma injustiça, mas admito que há alguma subjectividade.
O que concordo inteiramente é que adoraria ter Quaresma e Cristiano Ronaldo a jogar ainda no Sporting.
Caro Manolo,
Escreveste "A insatisfação de ganhar quase nada, tanto a nível nacional como ao nivel internacional não nos pode tapar a visão..."
Eu tento, nesta posta, fazer uma análise objectiva. A verdade pura e dura é esta: vendemos os melhores jogadores para edificar património, vendemos agora esse património e abdicamos das receitas que ele proporcionava (mais uma vez, de proprietários passamos a inquilinos na sede, fanlab e secretaria, aumentando a despesa) para amortizar o passivo.
Há duas hipóteses de futuro: ou o sporting mantém os melhores jogadores da formação (Moutinho, Nani, Miguel Veloso) e a propriedade do estádio e academia, tornando-se uma equipa ganhadora com presença regular na champions, ou começa a vender os melhores jogadores, depois vende o estádio e começa a pagar renda para lá jogar, vende a academia e passa também a inquilino, fica sem dívidas, sem jogadores de qualidade e sem património.
Neste último cenário, mais sombrio, o que é verdade hoje?
- Os jogadores: Quaresma, Simão, Ronaldo, Duscher, Boa Morte, Hugo Viana, Enakarire não jogam no Sporting.
- Património: do total edificado, já só restam o estádio e a academia, aliás com pouco valor de mercado (quem vai querer comprar um estádio?)
- Os resultados desportivos: fim das amadoras, fracos resultados no futebol profissional.
Eu ainda acredito. Mas acho que o que não nos deve "tapar a visão" é o nosso sportinguismo. Se queres que te diga, os nossos rivais estão ainda em situação bem pior que a nossa. O Sporting tem a gestão mais rigorosa, profissional e competente em Portugal. Isso é bom. Mas será suficiente? Já se cometeram muitos erros, nomeadamente na tal "gestão de activos". Não deve o nosso sportinguismo orbigar-nos a exigir ainda melhor?
Não é por nada, é só que o teu comentário me faz pensar que estás muito satisfeito com o actual estado do clube. Será essa interpretação verdadeira?
El Ranys, gosto de discutir contigo o Sporting e remeto para as tuas palavras,
“Há duas hipóteses de futuro: ou o Sporting mantém os melhores jogadores da formação (Moutinho, Nani, Miguel Veloso) e a propriedade do estádio e academia, tornando-se uma equipa ganhadora com presença regular na champions, ou começa a vender os melhores jogadores, depois vende o estádio e começa a pagar renda para lá jogar, vende a academia e passa também a inquilino, fica sem dívidas, sem jogadores de qualidade e sem património”
Ou seja, na minha compreensão do que dizes:
Se, mantiver
1 Melhores jogadores
2 Propriedade Estádio e Academia
Então, logo,
1 Equipa ganhadora
2 Presença Champions
É a primeira hipótese.
Esta é a aposta actual do Sporting, sabendo que, evidentemente as coisas não funcionam, no prazo imediato do dia-a-dia, como transparece simplesmente com esse “se…, então…”.
Concordo que o papel dos adeptos é pressionar (sempre no mesmo sentido, ter os melhores jogadores, isto é contratações e não vender, não interessa o resto). Mas os três pontos do meu anterior comentário, 1)não há mercado para manter os grandes jogadores, 2)as boas decisões tomadas (já lá vão mais de 10 anos), pela aposta decidida, directa, sem subterfúgios na formação, objectivamente 60% plantel a médio prazo e pela construção do novo Estádio e da Academia, foram arrojadas, visionárias e fizeram o seu caminho e 3) os dirigentes do Sporting são exemplo para todos os outros dirigentes do tecido (cheio de nódoas) do futebol, salvo raríssimas excepções; mantêm-se e para mim são três pontos dos quais não abdico.
Mas El Ranys, quando falei em “tapar a visão” queria dizer exactamente isso. Estes três pontos são consensuais, ou não?
Qual a 2ª hipótese que referes?
Ao vender,
1 Vende jogadores
2 Vende Estádio e fica inquilino
3 Vende Academia e fica inquilino
E assim,
1 Fica sem dívidas (positivo)
2 Fica sem Equipa (vende os melhores, negativo)
3 Fica sem Património (negativo).
E acusas a actual Direcção desta 2ª “via”. Nem imaginas como me doeu a saída do Quaresma, e também me pareceu pouco razoável, (tendo embora, aceite que o jogador teve influência) a venda no mesmo ano do Cristiano Ronaldo. As decisões nunca se tomam conhecendo o futuro, e são sempre analisadas conhecendo-o já. E a história também se escreve de erros. Mas tecer um cenário de catástrofe e resumir este Sporting a um “entreposto de venda de jogadores”, já só nos resta o Estádio e a Academia (aqui o cenário já é o da 1ª hipótese) e chamar fraco ao nosso futebol é demasiado negativo, sem necessidade e não é real. (apelar a quê?)
Acho que a exigência parte individualmente de cada um. À Direcção do Sporting, dou-lhe liberdade de decidir conforme a suas competências e legitimidades, não concordando com tudo, e não abdicando da minha opinião que coincide de modo perfeito com a estratégia a prazo do Clube, como tenho já tenho escrito. Portanto, não advogo Revoluções, e sou open minded com outros meios de alcançar os mesmos fins, sou que a tua alternativa (1ª) é a do Sporting, como acima mencionei. Assim e para terminar confesso o terrível pecado: Estou muito satisfeito com o actual estado do Sporting e sei que estamos no caminho certo. E também a tua alternativa de ser mais exigente é importante mas mais dirigido aos adeptos.
Fundamentalmente, o Sporting está no caminho certo. Isso é o mais importante, isso não deve ser posto em causa sempre que a bola não entra. Estruturalmente, a estratégia adoptada é a correcta. MAs há um factor importantíssimo que deve temperar estas análises - o futebol é um jogo, onde o acaso, a sorte, o azar, o galo também entram. Logo, a adopção da estratégia correcta não significa necessariamente que iremos ser campeões nem que iremos estar sempre na Liga dos Campeões - significa apenas que tendencialmente isso sucederá com alguma frequência. Mas o futebol não é matemática nem estatística, é um jogo, temos de nos lembrar disso...
Vamos lá a ver, caros Manolo e Rantas, se acertamos aqui um ponto:
As críticas que faço não se devem ao facto de "a bola bater no poste e não entrar" ou coisa do género.
Devem-se, isso sim, aos sucessivos erros de gestão no Sporting.
Não é o fracasso desportivo que me incomoda, mas sim o desastre financeiro.
E se os dois se aliam, então estamos ainda pior.
Aliás, em termos de gestão desportiva, a coisa nem é assim tão má nos últimos anos: dois campeonatos nacionais, uma taça de portugal, uma final da UEFA.
Também é verdade que sempre se construiu o estádio e a Academia.
Mas parece que têm a memória curta. Dizia-se que as receitas proporcionadas pelo património construido (as rendas do Alvaláxia, clínica, edifício-sede, holmes place, multidesportivo, and so on) é que iriam financiar e alavancar o futebol profissional.
Já percebemos todos, duramente, que isso não aconteceu. Pelo caminho, foram embora aqueles jogadores todos de que já falei.
As "amadoras" foram à vida.
O Sporting ficou mais pobre. Não tem património, não tem os jogadores vendidos, não tem as amadoras, não tem terrenos, tem dívidas.
Este é o balanço que se pode fazer neste momento.
Não creio que a responsabilidade maior seja de Soares Franco. Creio, aliás, que se devem chamar os bois pelos nomes. Não ignorando que deu muito de si, que enterrou no Sporting muito dinheirinho e que é um grande sportinguista, o grande responsável por ter deixado as coisas chegar onde chegaram tem um nome: António Dias da Cunha.
Depois de vender jogadores, nos últimos cinco anos, cujoa receita foi bastante superior a 60 milhões de euros (basta somar os valores das transferências dos jogadores que já referi, deixando todos os outros de fora), no momento em que vai arrecadar cerca de 50 milhões de euros com a venda do património, enquanto espera receber 40 milhões de euros pela urbanização dos terrenos do antigo estádio, o Sporting, que devia ser um clube rico, é um clube falido.
Estamos a falar de muito dinheiro, dinheiro aliás que não pára de entrar nos cofres do clube. Nem nos devemos esquecer que milhares de lugares cativos foram vendidos por 20 anos no novo estádio, tendo entrado muito dinheiro no clube também à custa disso. As assitências em Alvalade são normalmente boas (uma média de cerca de 30 mil espectadores por jogo).
O dinheiro entra, entra e entra. E o clube cada vez mais pobre. Acham que estou a falar da "bola que vai ao poste e não entra"? Caramba, que obstinação. Deixem lá essa ideia e falem de gestão. Nos últimos anos (consulado de Dias da Cunha) foi uma merda. Ah, e Soares Franco, Ribeiro Telles, etc, estavam lá. São o melhor que o Sporting tem para dirigir os seus destinos? - Nas últimas eleições, foram.
São muito bons? - Acredito que é possível, é exigível melhor.
Nem o meu exacerbado sportinguismo me impede de ver e dizer isto.
Vender bons jogadores com 18 e 19 anos é fácil. Difícil é mantê-los, deixá-los amadurecer e crescer sem se desviarem do profissionalismo e vendê-los mais tarde, se for caso disso, pelo dobro do preço.
Difícil é fazer uma boa gestão de activos, comprando barato, valorizando e vendendo caro (o único exemplo é Enakarire). Os dirigentes do Sporting têm feito o fácil. O difícil é que não tem sido concretizado.
Há uma outra coisa que é bastante difícil e não tem sido concretizada, sempre de forma consistente, que é escreveres bem o nome do gajo. É Enakarhire, porra!
;D
Não tenho memória curta. Por isso, acho que Dias da Cunha deve ficar bem no "retrato" de Presidente do Sporting. El Ranys, apresentas o argumento de receitas milionárias desbaratadas, um clube que "devia ser rico e está falido" e o culpado é Dias da Cunha. Na minha opinião (não-técnica, como a tua) ao fim de alguns anos em que as obrigações financeiras contraídas aliado à falta de receitas (perdidas pela não-participação na Champions)gerou a necessidade de vender estrelas (aliás, desde o início previsto e orçamentada a venda significativa de 1 jogador por época). Aqui Dias da Cunha foi obstinado. Precisamente a tua maior insatisfação (venda de jogadores) foi também a política de Dias da Cunha. Eu sublinho a sua lealdade ao Sporting e a sua luta de combatente contra o sistema só me orgulha. E houve uma alteração táctica com Soares Franco, mantendo a estratégia (formar equipa sempre na Champions, só se mantiver os jogadores - alguns anos, os possíveis). Esta alteração táctica foi também arriscada: vender todo o património não-desportivo, para diminuir passivo e juros da divida, para alcançar o pretendido: não ser forçado a vender, pois não tanto a pagar. Em moldes genéricos identifico-me com este caminho. E vejo que o Rantas (parabéns pelo regresso ao Leão) também está comigo. Mas, também respeito a tua visão. Mas, se tivesses razão é porque o futebol, em Portugal não tem "pernas".
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