SAD regista prejuízo de 34,8 milhões de euros
SOCIEDADE BENFIQUISTA REVELA CONTAS DO EXERCÍCIO 2008/2009
A Benfica SAD apresentou esta sexta-feira, em comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), as contas do exercício 2008/2009, registando um prejuízo de 34,8 milhões de euros, depois de ter somado lucros de 116 mil euros no ano anterior. Além disso, a sociedade encarnada contabilizou, pela primeira vez, capitais próprios negativos, de 11,8 milhões de euros.
"O resultado líquido de 2008/2009, à semelhança do operacional, apresenta valores significativamente negativos, apenas comparável com o prejuízo superior a 37 milhões de euros apurado em 2000/2001. Desta forma, interrompeu-se uma série de dois anos em que a Sociedade apresentou resultados líquidos positivos, a qual se pretende retomar no mais curto espaço de tempo possível", refere o comunicado enviado à CMVM.
O resultado anunciado hoje reflete o mau desempenho desportivo na passada temporada, tento a SAD registado também um aumento do passivo, que passou de 125 milhões de euros para 178,6 milhões de euros. Por outro lado, "o valor do activo da Benfica SAD equivale a cerca de 166,8 milhões de euros, tendo apresentado um crescimento de 12,7%, impulsionados pelos direitos desportivos de atletas".
"Contrariando a tendência dos dois últimos exercícios, os capitais próprios da Sociedade sofreram um forte recuo no presente exercício por via do prejuízo apresentado. Esta diminuição implicou inclusivamente que, pela primeira vez, a Benfica SAD tivesse atingido um valor negativo [11,8 milhões de euros] nos seus capitais próprios", pode ainda ler-se no comunicado.
Comunicado enviado à CMVM:"Análise às Demonstrações Financeiras Consolidadas
Na análise às demonstrações financeiras consolidadas do exercício de 2008/2009, que compreendem o período de 1 de Julho de 2008 a 30 de Junho de 2009, salientamos que a sua comparabilidade com o exercício anterior se encontra afectada, pelo facto do mesmo compreender o período de 1 de Agosto a 30 de Junho de 2008, situação relacionada com a alteração do exercício social no ano anterior. Desta forma, o exercício de 2007/2008 compreendeu apenas 11 meses de actividade, de forma a ajustar os exercícios económicos à época desportiva.
Os resultados operacionais consolidados correspondem a 29,9 milhões de euros negativos, dos quais os montantes relacionados directamente com passes de atletas representam cerca de 16,9 milhões euros do referido prejuízo, e o EBITDA apresenta um valor negativo próximo dos 5 milhões de euros.
Estes resultados são influenciados por uma série de factores, nomeadamente:
• a não participação na Liga dos Campeões após três anos consecutivos de presença, tratando-se da principal prova de clubes na Europa que permite um encaixe de receitas na ordem dos 10 milhões de euros caso se atinja a fase de Grupos;
• os resultados desportivos da equipa principal de futebol, que se viu arredada da discussão do título nacional a partir do início da segunda parte da época e foi eliminada da Taça UEFA na fase de Grupos, onde o seu desempenho não atingiu os patamares expectáveis;
• o reforço do investimento efectuado no futebol profissional, quer no que se refere à manutenção dos principais atletas que integraram o plantel na época 2007/2008, quer na aquisição de novos atletas, em diversos casos oriundos de clubes europeus com o intuito de reforçar o plantel com qualidade e experiência, tendo também como consequência o aumento da massa salarial;
• a decisão estratégica tomada no final da época 2008/2009 em manter os principais activos naSociedade, com o intuito de voltar a apostar nesses jogadores para obter resultados desportivos e não optar por alienar direitos desportivos de atletas cujo valor de mercado se encontravanegativamente influenciado pela época menos conseguida da equipa.
A estes factores de índole interna, há ainda a acrescentar a crise económica que atingiu a esmagadora maioria das economias mundiais e que implicou um menor poder de compra por parte da generalidade dos consumidores. Naturalmente que existindo um afastamento dos resultados desejados por parte da equipa principal de futebol, a propensão à assistência de jogos de futebol por parte do adeptos tem tendência a diminuir.
Finalmente, outros factores que também contribuíram para os resultados negativos do exercício dizem respeito às diversas indemnizações assumidas pela Sociedade, nomeadamente com a rescisão com a anterior equipa técnica, e o reconhecimento de imparidades referentes aos passes dos atletas que tiveram um desempenho desportivo menos positivo, o qual não é dissociável do desempenho global da equipa.
Os resultados financeiros são negativos em aproximadamente 4,9 milhões de euros, o que corresponde a uma variação negativa de 1 milhão de euros face ao ano anterior. Este decréscimo do resultado foi motivado pelo facto da Sociedade ter aumentado o seu nível de endividamento médio face ao período homólogo, sendo de acrescer que estamos perante um mês adicional de custos quando comparado com o exercício anterior. Assim, a redução da taxa Euribor que se verificou durante este exercício com impacto em alguns dos empréstimos não foi suficiente para compensar o aumento do endividamento, nomeadamente com o recurso à emissão de papel comercial no valor máximo de 40 milhões de euros e à celebração de novos empréstimos intercalares, tendo inclusivamente estes últimos sofrido um agravamento considerável das taxas de spread praticadas pelas instituições bancárias.
O resultado líquido de 2008/2009, à semelhança do operacional, apresenta valores significativamente negativos, apenas comparável com o prejuízo superior a 37 milhões de euros apurado em 2000/2001. Desta forma, interrompeu-se uma série de dois anos em que a Sociedade apresentou resultados líquidos positivos, a qual se pretende retomar no mais curto espaço de tempo possível. No exercício em análise verificou-se um aumento do passivo da Sociedade, que passou de 125 milhões de euros para 178,6 milhões de euros, o que significa um acréscimo de 53,6 milhões de euros. Esta variação está essencialmente relacionada com o aumento ocorrido nas rubricas de empréstimos obtidos, que em termos líquidos (considerando o saldo não corrente e corrente) variaram cerca de 56,1 milhões de euros.
A rubrica do passivo corrente de empréstimos obtidos sofreu um aumento significativo, o qual é explicado pela subscrição de papel comercial no valor de 40 milhões de euros, pela transferência de 20 milhões de euros da rubrica de não corrente referente ao empréstimo obrigacionista e pelo recurso a empréstimos intercalares num valor superior a 19 milhões de euros. Este aumento do endividamento está relacionado com a necessidade da Sociedade em investir com o intuito de obter resultados num futuro próximo, sendo de destacar que as instituições bancárias continuam a acreditar e a apoiar a estratégia da Benfica SAD através da criação de condições que têm permitido à Sociedade financiar a sua actividade.
O valor do activo da Benfica SAD equivale a cerca de 166,8 milhões de euros, tendo apresentado um crescimento de 12,7% e uma variação próxima dos 18,8 milhões de euros essencialmente impulsionados pelos direitos desportivos de atletas.
Naturalmente que os investimentos que têm vindo a ser efectuados pela Sociedade nos últimosexercícios têm permitido aumentar o valor líquido dos direitos desportivos dos atletas, a principal parcela que compõe a rubrica de activos intangíveis. Assim, esta rubrica apresenta no final do exercício corrente um valor de 83,3 milhões de euros, dos quais 70,7 milhões de euros dizem respeito a direitos desportivos de atletas (2007/2008: 53,5 milhões de euros), o que representa um crescimento de 17,2 milhões de euros. De referir que é expectável que o valor actual do plantel da Benfica SAD seja manifestamente superior ao valor líquido contabilístico, tendo o recente desempenho da equipa contribuído para a valorização dos seus atletas.
Contrariando a tendência dos dois últimos exercícios, os capitais próprios da Sociedade sofreram um forte recuo no presente exercício por via do prejuízo apresentado. Esta diminuição implicouinclusivamente que, pela primeira vez, a Benfica SAD tivesse atingido um valor negativo nos seus capitais próprios.
Conforme já foi anteriormente referido, este resultado e a situação dos capitais próprios a 30 de Junho de 2009, apesar de não serem os desejáveis, foram conscientemente obtidos após um exercício de forte investimento, de retracção económica e de resultados significativamente aquém das expectativas e dos objectivos traçados no início da época. A solução mais fácil para evitar os resultados agora apresentados seria a alienação dos direitos desportivos dos principais atletas. Contudo, a decisão tomada foi exactamente a contrária, isto é, não se enveredou pela venda de jogadores, uma vez que se considerou que o seu valor de mercado estava a ser negativamente influenciado por uma época com poucos resultados, mas antes pela manutenção desses atletas, pelo investimento em novos jogadores de qualidade que possam fortalecer o plantel e por mudanças significativas na estrutura técnica do futebol profissional que, naturalmente, teve algumas responsabilidades nos resultados negativos do presente exercício. Estas opções foram tomadas tendo consciência que, apesar do impacto negativo nos resultados económicos imediatos, eram as que melhor defendiam os superiores interesses da Benfica SAD em termos desportivos e económicos a médio prazo.
Paralelamente, a Benfica SAD continuou a trabalhar no sentido de ultrapassar o actual panorama dos seus capitais próprios, sendo para tal fundamentais as operações de criação de um fundo deinvestimento em jogadores e da reestruturação do Grupo Sport Lisboa e Benfica.
Evolução da Actividade no Exercício em Análise
Após um desempenho positivo na primeira metade da Liga Nacional, tendo inclusivamente iniciado o mês de Janeiro na liderança da prova, a equipa acabou por se afastar do primeiro lugar, terminando já no decorrer do mês de Maio a competição no terceiro lugar, detendo ainda o segundo melhor ataque da competição com 54 golos marcados.
Esta classificação deu acesso directo à nova competição europeia que estreou na temporada 2009/2010, a Liga Europa, cujos moldes se assemelham à Liga dos Campeões e que substitui a Taça UEFA. Contudo, à semelhança do ano anterior, ficou comprometido o acesso à Liga dos Campeões de 2009/2010, situação que na época em análise já teve um impacto negativo nos resultados económicofinanceiros da Sociedade, para além da importância em termos de prestígio e notoriedade associada à presença na principal competição de clubes da Europa.
O momento mais positivo de toda a época desportiva ocorreu a 21 de Março de 2009, quando o Benfica conquistou a Taça da Liga, numa final disputada frente ao Sporting no Estádio do Algarve, conseguindo juntar pela primeira vez este troféu ao seu palmarés na sua segunda edição tornando-se na primeira equipa a deter todos os troféus nacionais em competição.
Após o término da época desportiva 2008/2009, foi realizado um balanço rigoroso de toda a temporada e foi tomada a decisão de substituir a equipa técnica da equipa de futebol profissional. Assim sendo, no início de Junho foi alcançado o acordo de rescisão amigável com o Sr. Enrique Sanchez Flores e os treinadores adjuntos, tendo sido posteriormente contratada a nova equipa técnica liderada pelo Sr. Jorge Jesus.
No decorrer do exercício de 2008/2009, os investimentos que foram realizados para reforço do plantel da equipa de futebol profissional ascenderam no seu conjunto ao montante de aproximadamente 41,6 milhões de euros.
O valor do investimento acima referido está essencialmente relacionado com as aquisições de direitos desportivos dos atletas Carlos Martins, Pablo Aimar e Sidnei no início da época 2008/2009 e dos jogadores José Alberto Schaffer, Ramires, Patric e Saviola antes do início da época 2009/2010.
No que se refere a alienação de direitos desportivos, a Benfica SAD realizou transferências de atletas no valor de cerca de 8,9 milhões de euros no decurso do exercício de 2008/2009, tendo estas operações gerado mais valias de aproximadamente 7,1 milhões de euros.
Assim, nos meses de Julho e Agosto de 2008 foram transferidos os atletas José Fonte, João Coimbra e Nélson para o Cristal Palace, Marítimo e Bétis de Sevilha, respectivamente, e, antes de 30 de Junho de 2009, foi transaccionado o direito desportivo do atleta Katsouranis para o Panathinaikos.
No que se refere aos escalões de formação, o Benfica deu mais um passo na evolução que se temverificado nos últimos anos. Depois de na época transacta se ter sagrado campeão nacional na categoria de juvenis, este ano foi a vez de conquistar os títulos de campeão nacional em juniores e iniciados, isto é, em 2 dos 3 escalões.
Na Assembleia Geral realizada a 12 de Janeiro de 2009 foi deliberado autorizar o Conselho deAdministração a proceder à emissão de papel comercial ou instrumento de dívida equiparado até ao montante máximo de 40 milhões de euros nos demais termos e condições do programa apresentado.
A Sociedade apresenta capitais próprios consolidados negativos, mantendo-se a intenção referida em relatórios anteriores da Direcção do accionista Sport Lisboa e Benfica promover um aumento de capital na Benfica SAD, através da entrada em espécie das acções detidas na Benfica Estádio e posterior fusão entre as duas sociedades, como uma das medidas e encetar como forma de cumprir com o disposto no artigo 35º do Código das Sociedades Comerciais. No âmbito desta operação, cabe referir que no decorrer deste exercício a Sociedade obteve o deferimento por parte do Ministério das Finanças ao requerimento do pedido de isenção de IMT e do Selo, bem como emolumentos e outros encargos legais, nos termos e ao abrigo do Decreto-Lei nº 404/90, de 21 de Dezembro, actualmente artigo 60.º do EBF.
Este projecto deverá ser apresentado antes do final do corrente ano civil aos associados do accionista Sport Lisboa e Benfica e a respectiva aprovação em Assembleia Geral permitirá um reforço significativo dos Capitais Próprios desta Sociedade.
Adicionalmente, a Administração está convicta que a geração de resultados económicos e financeiros positivos nos próximos exercícios irá permitir de forma faseada a recuperação dos capitais próprios da Sociedade e complementar a medida anteriormente referida.
O Conselho de Administração - Lisboa, 30 de Outubro de 2009"
in Record