Na sequência da discussão do modelo de campeonato preconizado para Portugal (V.
Sector B32,
Três Sentenças Atrasadas e, essencialmente, o post "
Aprofundando a crise", do
QQ2, de 20 de Dezembro), o Revisão da Jornada - ou pelo menos eu, enfim - gostaria de associar-se a esta iniciativa: vamos debater o modelo de Campeonato que queremos!
Diagnóstico
Em primeiro lugar, o diagnóstico. Qual é o problema real do futebol português?
Pela posição ocupada nos rankings internacionais, nenhum, diria eu. Comparando poder económico, população, dimensão, Portugal está muito bem classificado. Mas esses rankings não traduzem a realidade do futebol português - traduzem apenas e tão só 3 equipas, com uns fogachos (muito) ocasionais de algum outsider.
Campomaiorense, Farense, Salgueiros, Felgueiras e tantos outros clubes encerraram as portas para o futebol profissional.
Existem dezenas de boatos sobre clubes que não satisfazem as suas obrigações fiscais nem as contribuições devidas à Segurança Social.
Vitória de Setúbal não paga aos jogadores.
Boavista tem os jogadores penhorados (de acordo com a edição nº 666 da VISÃO, de 7 de Dezembro).
O futebol português não está saudável...
Hipótese
O problema essencial reside na falta de receitas de exploração - fundamentalmente, devido à falta de público.
Porque é que o público não vai aos estádios - estádios esses que, recorde-se, são dos mais modernos, confortáveis e funcionais do Mundo?
O meu caso não é ilustrativo - sou dos que preferem refastelar-se frente à TV, no sofá de casa, a ver e a rever os lances, por vezes a ouvir os dislates de algum comentador, outras a acompanhar recitais de bola com alguma música na aparelhagem...
Ou seja, eu não sou espectador de futebol há cerca de 20 anos - para ser exacto, desde uma queda espalhafatosa de Paulo Futre , então com a camisola do FC Porto, na grande área da Briosa, numa tarde coimbrã marcada pela chuva e por esse penalty inexistente que marcou o meu abandono das lides.
A falta de público deve-se à falta de interesse de demasiados jogos. Não necessariamente à falta de competitividade, que creio que é uma marca recente do nosso campeonato.
Soluções
A falta de público combate-se com a redução de jogos desinteressantes - e, como é bom de ver, com o incremento dos jogos com equilíbrio, qualidade, emoção, combatividade, imprevisibilidade. Isso é impossível de obter com 18 ou mesmo com 16 equipas.
A solução estrutural para este problema é reduzir o número de equipas na competição.
Tenho ouvido falar em duas soluções: uma com uma primeira fase com 12 equipas, a duas voltas, seguida de um "play-off" com 6 equipas, também a duas voltas. Isso daria um campeonato com 32 jornadas, todas elas vibrantes de jogos interessantes e decisivos.
Outra solução é com um campeonato com 10 equipas, a quatro voltas, o que resulta num campeonato com 36 jornadas. Será talvez excessivo? Actualmente existem 34 jornadas, com férias pelo Natal. Neste período natalício, em Inglaterra realizam-se 4 jornadas...
Isto também significa que em Portugal se deve passar a ter uma cultura mais virada para o espectáculo e para o público: se no Natal o público está de férias, os artistas não podem ir de férias!
Os árbitros têm de passar a ter uma estrutura profissional que os suporte e uma estrutura independente que os observe, avalie e classifique.
Os clubes têm de ter as suas contas escrupulosamente em dia.
O Conselho de Disciplina tem de decidir os assuntos na própria semana em que acontecem.
A televisão deve manter as suas emissões - não se deve pretender obrigar as pessoas a ou irem ao estádio ou verem jogos de outros campeonatos. São bens complementares e não substitutos.
Bom, e é isto que eu queria dizer. Saudações natalícias!